Nossa despedida

07 de março de 2013
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Era nosso último encontro. Eu sabia, e você, no fundo, também, que aquela era a última vez que riríamos com o garçom desajeitado do nosso restaurante preferido. Era a última vez que comeríamos juntos aquele prato de costela também. Eu, pelo menos, nunca mais vou conseguir degustar do meu prato favorito, do mesmo jeito que eu fazia com você. Acho que a gente sabe quando alguma coisa chega ao fim. Não sei, acho que algum dispositivo interno avisa: já deu. O alarme já soava há dias com a gente, mas é difícil largar o osso, como você dizia quando falava de seus vícios. Acho que nós dois viramos isso: um vício. Eu me viciei em te ter por perto, em ter sempre sua palavra amiga, em ter sempre o seu abraço em qualquer situação. Pior do que isso: eu me acostumei. Odeio o fato de ter me acostumado a você, quando antes eu te amava tanto.

Naquela noite, enquanto pedíamos a sobremesa, nós dois nos olhávamos como se soubéssemos: tinha acabado. Não dava pra reescrever toda a parte bonita da nossa história. Levantaríamos dali não apenas para voltar para casa, mas para voltar para a vida que tínhamos antes de nos conhecer. Sairíamos do restaurante saindo um pouco da nossa própria vida também, e acho que isso era o que doía. Eu não sabia como seria dali para frente, já nem me imaginava mais sem você ao lado. Mas medo nenhum tinha mais o poder de me fazer insistir em uma relação acabada. Você também já tinha desistido.

Como dói abrir mão de uma coisa pela qual a gente lutou tanto. Mas aquela era a primeira vez que eu ia embora sabendo que estava fazendo a coisa certa. Era a primeira vez que meu coração estava tranquilo o suficiente para não me arrepender das minhas atitudes. Eu ia inteira, sem deixar parte nenhuma para trás, em uma história inacabada. Eu e você tínhamos amadurecido o suficiente nesses anos todos pra poder acabar com um ponto final digno. Sem gritos, sem acusações sem sentido, nem mágoas eternas. Acabávamos bem, porque éramos fortes para sabermos a hora de parar.

Você pediu a conta e meu corpo gelou. Meu Deus, o que eu faria dali para frente? Eu saberia amar de novo? Eu conseguiria viver por aí sabendo que nós nunca mais iríamos voltar? Conseguiria. Eu sabia, conseguiria. Apesar do medo, apesar da pontada aguda de dor, apesar de você, apesar de nós dois. Apesar do fim de nós dois, eu viveria feliz, como sempre. Era reconfortante saber que eu não deixava parte nenhuma de mim com você e você também não me deixava nenhum peso morto. Eu iria muito mais forte e completa do que quando te conheci, toda despedaçada de outros amores.

A noite chegou ao fim e levantamos da mesa sem dar as mãos. Voltamos para casa e você arrumou suas malas. Eu ficava, mas sentia como se estivesse indo também. Não houve uma grande despedida. Você apenas veio até a mim, pegou meu rosto e me deu um beijo demorado na testa. Eu deixei cair uma lágrima, porque, comodidade ou não, o que eu tinha com você era especial. Você olhou para mim e disse: “vá ser feliz, te cuida e não deixa nenhum idiota quebrar o seu coração”.

Eu nem precisei dizer que desejava o mesmo para você também. O mesmo, amor. O mesmo.