você está lendo Sobre olhares, sorrisos e amor à primeira vista

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Entro em meu bar preferido. Ele está na última mesa a esquerda. Nunca o vi por aqui. Melhor: nunca o vi na vida, mas sinto um arrepio que vai desde a nuca até o final das minhas costas. Não digo nada para as minhas amigas, mas é o tipo de sensação que não costumamos sentir muitas vezes na vida.

Elas não reparam nele. Ele não faz o perfil que parece atraente a elas. Na verdade, também não faz o perfil que me atrai. Por obra do acaso, antes que eu deixe de olhá-lo, ele vira a cabeça em minha direção. A gente se olha por poucos segundos, mas uma voz na minha mente berra em alto e bom som: é ele! Eu não escuto. Nunca acreditei em amor à primeira vista. Então, volto a conversar com minhas amigas. Luto para que meu olhar permaneça por perto. Logo ele vai embora, eu penso. Logo esse imã que me atrai para sua mesa vai deixar de funcionar.

Mas ele não vai. Ele fica ali, conversando com a garota com quem está. Ela é loira, alta e magra. Eu sei porque, por mais que tenha jurado que não faria, eu passei a noite filmando cada um de seus movimentos. Em um momento, ela levanta para ir ao banheiro. Um lado de mim fala para ir até lá. Ele olha novamente. Já é a quinta vez, desde que o vi. Ele sorri. Meu Deus, ele sorri e tudo se perde. A conversa entre minhas amigas para de fazer sentido. A menina com quem ele está para de fazer sentido. Eu paro de fazer sentido. Vinte e poucos anos nas costas e um desconhecido em uma mesa qualquer do meu bar preferido, em uma quinta-feira, ganha meu coração sem precisar dizer uma palavra. Sem precisar dizer nada.

A garota volta. A chance passou. Meu estômago dá uma leve embrulhada. Meu Deus, eu nem sei o nome dele. Penso em algumas maneiras de descobrir. Talvez se eu pedisse para o garçom entregar uma bebida naquela mesa. Não. Ele está acompanhado, não sou esse tipo de garota. Mas eles não parecem namorados. Talvez sejam só amigos, talvez irmãos. Ele olha novamente. A essa altura, eu já nem sei mais sobre o que as minhas amigas conversam. Não importa, ele sorriu de novo. Dessa vez, eu abro um sorriso também. É sua deixa, tenho vontade de falar. Mas ele vira o rosto e continua conversando.

Minhas amigas pedem a conta e eu quase choro. Vou embora sem saber o nome do cara da minha vida. Uma parte de mim reza que, entre minhas idas e vindas, eu esbarre com ele novamente. Em uma das mesas do meu bar favorito; ou no canto do restaurante em que sempre almoço nos dias de trabalho; ou na festa de algum dos meus amigos, me provando como o mundo é pequeno. Vou embora. Com vergonha pela falta de coragem de ir até ele e perguntar seu nome. Vou embora. Uma parte de mim crente que ele era o amor da minha vida. E eu deixei escapar. Eu deixei escapar…