Entre dois mundos

08 de setembro de 2012
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A rua é a mesma. O calor também. Depois de algumas horas no ônibus olhando a estrada e viajando, em pensamentos, provavelmente bem mais rápido do aquelas rodas aguentariam, cheguei. Engraçado. Voltar para a casa dos meus pais sempre me faz pensar na vida. Lembrar de algumas coisas e imaginar outras. Não sei se isso é saudável, ou se é mais um daqueles rituais de sofrimento que costumo cultivar quando tenho algum tempo livre. O importante é que quando venho pra cá, do meu antigo quarto, consigo sentir como eu me sentia antes. E às vezes, em épocas de grandes mudanças e pequenas incertezas, isso se torna fundamental e altamente perigoso. Gosto do risco.

Abraçar a Zooey. Ficar o dia todo deitada na cama olhando pro teto no escuro. Almoçar com a família toda na mesa ouvindo as piadinhas sem graça do meu pai. Escutar carros passando no final da tarde com músicas de gosto duvidoso e no último volume. Minha tia chamar pra ir à missa. Resumindo: Coisas simples que antes eu não dava a mínima e agora fazem meu coração bater mais calmo e feliz. Como aquela antiga voz e conversa rápida no telefone. Que louco, né? O mundo dá tanta volta que às vezes é tão difícil ficar em pé. Mas me apoiando nessas palavras, criei uma teoria. A teoria dos dois mundos. O das pessoas simples e o resto.

No mundo das pessoas simples as coisas costumam ser um pouco mais leves. Menos pose, expectativa e maquiagem. Mais praia, tardes sem grandes acontecimentos com os amigos de longa data e tempo pra bater-papo com a avó na varanda. Menos pressão, cobranças e promessas. Mais hoje. Menos atualizações no facebook. O mais importante de tudo: menos necessidade de julgamento dos outros e da vida. Por que precisamos entender cada resto de sentimento em?

Pessoas complicadas geralmente nos prendem. Já as pessoas simples nos deixam ir pra onde precisamos ir. Elas não precisam de tantas explicações, sabe? Simplesmente continuam vivendo e continuam lá. Em algum lugar onde vamos sempre alcançar. Independente do tempo. Da distância ou do que for. Pessoas complicadas estão ocupadas tentando parecer ocupadas. E por mais que isso seja irresistivelmente misterioso, no final das contas, são só pessoas perdidas com suas próprias escolhas e consequências.

Onde eu entro nessa história toda? Sei não. Acho que tenho um pé nos dois mundos. E essa sensação que às vezes me corrompe e consome, como agora, é apenas a consequência da vontade de estar sempre em equílibrio.