você está lendo Já fui mal-amada – este é o meu desabafo

Foto: Flickr/Andrew Paukstitus

Eu sei, isso soa forte.

(M-A-L A-M-A-D-A)

Mas os efeitos que esta expressão traz ao meu emocional são tão complexos que nem me olhando no espelho conseguiria explicar. Fui buscar nas minhas experiências de vida o que poderia significar.

Percebi que carregar o título de mal-amada não se origina pela ausência de um relacionamento amoroso, como muitos pensam por aí. O real significado desse estado de espírito é não ter “o início de todos os amores”: o amor próprio. Sim, o amor próprio. E esse eu ainda estou aprendendo a cultivar. É difícil de admitir – e mais difícil ainda tentar reverter a situação.

Uma vez li que, quando a gente está no fundo do poço, faz questão de chegar bem lá na maior das profundidades para aí perceber que existe uma luz no topo, uma luz alcançável se houver algum esforço para escalar o tal profundo túnel da solidão.

Tenho que aprender a ser egoísta – e não, você não leu errado. Esta manifestação egocêntrica que soa até como uma anomalia foi definida pelos padrões da sociedade como algo ruim, só que é um sentimento bom quando usado na medida certa e nos momentos propícios por pessoas que tiveram o azar de nascer com uma alma sensível demais, que se doa demais.

Não espere nada de alguém. Aprendi com os tombos que a minha felicidade depende exclusivamente de mim e confiar nos outros para tal só me trará frustração.

Amor próprio significa, antes de tudo, colocar-se em primeiro lugar na fila da felicidade e aprender a dizer “não”. Minhas leituras me ensinaram que, para dizer “sim” a nós mesmos, precisamos falar “não” para os outros em certas situações. Não sou a maníaca psicótica dos livros de autoajuda, só tenho muita vontade de conhecer a complexa mentalidade humana. Talvez por isso sinta este vazio enorme.

Percebi que, se eu não me A-M-A-S-S-E, assim, com todas as letras, com todas as cicatrizes no rosto, sobrancelhas mal feitas e o cabelo ao natural pedindo para ser domado, meu mundinho próprio não conspiraria de mãos dadas com meu universo-sonho. Tudo depende de mim. Este processo não é um botão instantâneo que eleva a minha autoestima em 10 minutos, e sim uma busca diária e complexa do processo de me amar.

Tenho aprendido todos os dias com os meus erros e, nessa montanha-russa de emoções, percebi que me amar não é uma escolha, mas uma consequência. Me valorizar tem sido o primeiro passo para essa jornada que, digamos, vai durar a vida inteira.

Não é fácil, eu sei que não é. Muitas vezes, nas noites de sábado, prefiro ficar em casa com meu moletom velho ao invés de ir para a festa usando o meu melhor vestido – só porque não gostei do jeito que meu cabelo acordou.

Se eu não partir do amor que gera todos os outros, ninguém fará nada por mim. Este é o amor que mais vale a pena, que te tira do sofá para que você tenha o banho mais relaxante da semana, que te sustenta em meio a um pé na bunda, que cria o prazer de levantar a cabeça enquanto você anda na rua, que te faz V-I-V-E-R, assim, com todas as letras, todas as marcas do passado, toda situação ainda mal-resolvida, todo o desespero interior.

Querido leitor mal-amado, prometa-me então que vai se amar mais, ao menos tentar. Te desafio a tomar este impulso hoje como quem dá o primeiro passo para uma vida nova. É assim que levo este processo, é assim que penso quando o cansaço bate e a única vontade é sentar e ficar reclamando da vida. Faça um esforço: é para você, é por você, a peça única neste mosaico abstrato da concreta e diversificada forma humana. Viva! E isso foi um imperativo.

 

Por Lenice Rubio, 20 anos, Juiz de Fora (MG)
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