Cobertura de coragem

28 de setembro de 2018
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Foto: Javier Andrés/Flickr

Eu cresci – e meu paladar não evoluiu comigo. Aos 23 anos, ainda gosto da bala Mentos colorida, do Tic Tac de laranja e de refri ao invés de álcool: os amargos e ardidos nunca me satisfizeram. Duas décadas nas costas não foram suficientes para apagar dos meus olhos o brilho de ter nas mãos uma casquinha de sorvete de morango com chocolate.

Tem sido assim desde então. Dia desses, fui a sorveteria com um amigo. A fila estava grande e eu, felizmente, não precisava daquele tempo para pensar: já podia imaginar uma casquinha com as bolas de morango e chocolate em minhas mãos. O tempo foi passando, a fila foi andando e, então, os sabores resolveram entrar em questão. Aluísio, o meu amigo, também era fiel a seus sabores preferidos. Nossa vez estava próxima e ele então sugeriu que, dessa vez, mudássemos as escolhas. Confesso: grande foi o choque, mas não maior do que a minha vontade de recusar aquela oferta inusitada. Bom, a minha vez chegou.

Debrucei-me no balcão e segui a indicação: “uma bola de nata com goiaba, moço.”

Olhei para aquele sorvete pálido e, por alguns segundos, imaginei ter feito uma péssima escolha, mas já era tarde, precisava comer antes que começasse a derreter. Coloquei a colher na boca e fui maravilhosamente surpreendida: nata com goiaba era uma delícia de sabor!

Então você me pergunta: onde você quer chegar com isso tudo?

Às vezes a gente precisa mudar.

Mudar de casa, de cor de cabelo, de curso, de amor, de sabores de sorvete – para aumentar, como diz Clóvis de Barros Filho, nosso “tesão pela vida”. E às vezes a gente só precisa que alguém legal nos induza a boas mudanças.

Gosto de dar significados assim para as coisas que acontecem comigo. Dessa vez achei um bem doce. É isso: a vida precisa conhecer sempre um novo sabor de sorvete. Essa cobertura de coragem é deliciosa.

 

Por Elisa Damante, 24 anos, João Pessoa (PB)
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