você está lendo O que a menina da foto está pensando?

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Faz tempo que decidi voltar a escrever. Não apenas porque me disseram que eu deveria, mas porque dissertar sobre o que eu vivo, de certa forma, me ajuda a compreender o que eu sinto. E eu tenho sentido TANTO ultimamente. Mas colocar as palavras em ordem assim fora da minha cabeça não tem sido tão simples e natural como era antigamente. É mais fácil e eficaz guardar tudo no fundo da gaveta e organizar o móvel por fora. Fazer um tour. Abrir as caixas que chegaram essa semana. Mostrar a vista. É como se com o tempo eu tivesse parado de olhar só pra dentro por ter tanta coisa para enxergar, reparar e mostrar lá fora.

Não quero – e não vou – me acostumar com isso.

Sei que não estou sozinha nessa. Para quem começou na internet há quase uma década criando conteúdo em texto, se adaptar a nova era de vídeos instantâneos, exposição, imagem e clickbait não é uma tarefa tão simples, mas extremamente necessária. É por isso que tenho tentado de todas as formas imagináveis encontrar um formato que faça sentido pra mim e para o Depois Dos Quinze. Não é apenas sobre os nossos números, tenho uma empresa e obviamente também me importo com eles, mas sobre continuar sendo real e relevante para as pessoas que me acompanham aqui.

Entendo que a internet deixou de ser apenas um refúgio e se transformou na tela principal de uma geração inteira. É maravilhoso e ao mesmo tempo assustador fazer parte dessa transição. Se antes ninguém entendia direito o que nós tanto fazíamos na frente do computador, hoje dizem que temos a carreira dos sonhos porque conseguimos fazer dinheiro com algo que nos interessa genuinamente.

Então por que tá quase todo mundo sem assunto e falando da mesma coisa?

Fico pensando que a cultura e o algoritmo dessas redes sociais que prioriza números tem feito isso indiretamente com a gente (me incluo nisso, okay?). Não apenas na forma de divulgar o conteúdo, mas de criar também. O foco é sempre o número, os likes, os comentários e as interações. Mesmo que não seja genuíno e voluntário. Uma foto bonita com uma pergunta bobinha vai bem. Nos ensinam assim. Percebemos que funciona assim. Precisamos continuar crescendo, certo?! É sim o jeito mais rápido, mas acho que em longo prazo isso vai nos transformar todos em criadores sem personalidade. Versões diferentes da mesmíssima coisa. Mesmo preset. Mesmo feed.

Se o conteúdo for assim tão curto, editado e mastigado o que sobra para audiência pensar, entender e processar?

Quero muito voltar a olhar para o dia e pensar nas coisas que senti, não apenas nos itens que risquei da minha quase interminável lista de pendências e metas da semana. Meu novo desafio aqui é continuar criando conteúdo interessante, falando de coisas que eu gosto, no formato que faz sentido para minha audiência e pra mim, mesmo que isso signifique não ter um conteúdo compartilhável e viral o tempo todo.

É uma promessa, um lembrete e um desafio pessoal.

O que a garota da foto estava pensando? Em como transformar tudo aquilo que ela teve o privilégio de viver em uma história maneira ou uma crônica inteligente, não apenas em quantos likes aquela foto terá. Continuarei amando fotografia e a arte de capturar o momento da forma mais bonita possível, mas não quero mais que isso seja a coisa mais importante do meu trabalho. Amo escrever. Amo estar aqui todos os dias enfrentando essa tela em branco. I’m back, baby! <3