você está lendo Um grupo para chamar de “nós”
Foto: Em Bernatzky

Foto: Em Bernatzky

Estava saindo com um pessoal que não tinha muito a ver comigo.

Sempre me considerei o tipo de pessoa que se acha eclética para tudo, que diz gostar tanto de cinema quanto de conversa de bar, que vai a shows, mas também curte baladas… Aquela que sempre fala que é do time do “de tudo um pouco”, sim, pode por favor colocar este suco aí pra mim que eu vou experimentar.

Só que aquelas últimas saídas não estavam tão boas. Nada pessoal, eles até eram legais e me tratavam superbem – mas eu não sentia como se estivesse me divertindo. As conversas pareciam não se encaixar. Eu não falava o que me dava vontade e as horas ali pareciam verdadeiras eras. Todo mundo ria e eu também – não queria ser a cara fechada do rolê, é claro, mas, por dentro, não estava achando tanta graça – e acabei me descobrindo muito nisso.

Só que, depois, começou a vir a solidão. E o pior foi o que ela trouxe consigo, porque primeiro eu pensei que o problema era comigo. Talvez eu é que estivesse realmente chata demais? Dessa forma, nunca iria me encaixar em grupo algum… E aí tentei me forçar a olhar tudo de um jeito diferente. Eu me empenhei, juro, mas mesmo assim não deu.

Vi um filme, dois, três e, neles, sempre tinha um grupo de pessoas que eram super unidas e se divertiam muito quando estavam juntas. Eu queria algo assim, mas parece que a realidade estava cada vez mais distante.

Percebi que o negócio era me abrir para conhecer pessoas novas. Oportunidades? Talvez se eu me matriculasse em algum curso, frequentasse um novo local ou fizesse a louca adicionando amigos de amigos até chegar às pessoas que combinassem comigo… Tá, não. Por que as coisas mais simples às vezes são tão complicadas?

Todo final me fazia voltar a mim mesma: o martelinho batia insistentemente nos meus pensamentos, dizendo que talvez eu que fosse a complicada. Mas eu não queria amigos perfeitos… Só aqueles que combinassem – pelo menos de alguma forma – com o meu jeito de pensar.

E aí, numa noite qualquer, eles chegaram. Não pousaram numa nave e me falaram para entrar, não, eu conheci um, depois outro e outro… As ideias de cada um deles faziam sentido para mim também. Nem todas, é claro, mas, mesmo quando discordávamos, encontrávamos um jeito de aprender. Juntos.

Quando isso aconteceu, eu nem percebi – veja bem. Na realidade, só me dei conta quando vi mais um daqueles filmes cheios de turmas e pensei: olha só, eles dão risada de palavras inventadas, assim como nós.