você está lendo Nada apaixonada – e ouvindo músicas de amor
Foto: Frederic Agius

Foto: Frederic Agius

Só sei dançar com você.
Isso é o que o amor faz.

A Tulipa Ruiz estava cantando nos alto-falantes do carro e eu ouvia no caminho para a rodoviária, de carona com a Ana Laura, motorista do Cabify. Pensei que aquele podia ser um dos pequenos momentos em que a gente pode agradecer pela vida: o céu estava azulzinho lá fora, as coisas que eu precisava fazer naquele dia já estavam concluídas e aquela música tão doce começou a tocar… Me senti inspirada.

Eu já tinha escutado antes, mas não era uma canção que estivesse em alguma das minhas playlists do Spotify. A sensação, então, era de quem encontra dinheiro perdido na roupa ou um último chiclete salva-vidas no fundo da bolsa.

Passaram-se alguns dias e, numa tarde, trabalhando, tentei lembrar: qual era mesmo aquela música que tocou no carro?! Digitei parte do refrão no Google e ele logo identificou o nome. Aí ouvi uma, duas, três vezes enquanto cantarolava junto e sorria. Levantei para dançar também e, ao passar em frente ao espelho, me dei conta de que, caso algum vizinho estivesse ouvindo no apartamento do lado, certamente acharia que eu estava apaixonada.

Não à toa. Uma baita letra de amor dessas. E, bom, que nada: no momento, não existe nem um crush para contar história, paixão antiga pra relembrar ou contatinho recente no celular. Eu estava ali falando que só sabia dançar com você e nem tinha um você, tinha só eu mesma e uma empolgação vinda sei lá de onde, achando cada um daqueles versos a coisa mais linda do mundo.

Percebi que era uma das primeiras vezes (já disse que namorei por anos?) que eu estava ouvindo – e curtindo – uma música de amor e me encontrando naquela letra, mesmo que não me identificasse em absolutamente nada com ela. E não era uma questão só de ritmo perfeito ou uma voz tão boa que faz você se esquecer de todo o resto: eu estava gostando da letra de verdade.

Até achei um pouquinho estranho. Fiz um esforço: será que não estou me encantando por ninguém? Quanto mais eu pensava, mais chegava na mesma conclusão: não. Porque não vinha nenhuma imagem na minha cabeça. Eu estava encantada apenas pela música e, nesta volta sem fim, ela não refletia situação alguma para mim.

Ou era isso o que eu achava. Quanto mais aumentava o volume, mais tive a certeza de que, no final de contas, eu estava entendendo melhor o que estava acontecendo – e era tão simples…

Isso é o que o amor faz.