Eu não estou tão bem

28 de fevereiro de 2018
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Foto: Reprodução/Chiara Datteri

Foto: Reprodução/Chiara Datteri

Estava com medo de escrever. Na verdade, estava com medo de só conseguir escrever coisas tristes, de girar em torno de um único ponto e descontar na forma de palavras rancorosas toda a minha raiva e minha frustração.

Sempre que começo a escrever, se o assunto tem uma problemática, procuro achar uma solução. Às vezes, ela surge logo nas primeiras palavras – e então a desenvolvo, mas às vezes só lá no fim que aparece a tal luz – mas sempre tenho aquela intuição forte de que ela virá e, por isso, sigo escrevendo, sem parar.

Nestes últimos dias, isso não aconteceu. Se eu começava a bater os dedos no teclado ou a riscar o lápis no papel, não surgia nenhuma expectativa de achar um pontinho de luz no meio daquilo.

Tomei a decisão de mesmo assim continuar escrevendo. Porque eu sei que, embora não esteja encontrando minhas respostas aqui, não estou sozinha. Talvez você também esteja se sentindo assim, me entenda e isso nos conforte. Talvez a gente possa passar por tudo juntas.

O que me faz continuar, mesmo sem saber bem o que fazer a partir daqui, é a certeza de que uma hora vai passar. Veja bem, eu realmente não sei quando: às duas da tarde, no momento em que for pegar um bombom na cozinha logo após o almoço, ou naquele estalo no meio da noite, às 2h15, quando finalmente abrirei um sorriso e me darei conta de tudo que tenho – e não do que não tenho.

É, não sei mesmo quando vai acontecer. Às vezes torço para que seja daqui a pouco. Nunca é. Mas não sei se há o que fazer com relação a isso, sabe? Apenas sigo daqui enquanto você segue daí. A gente continua indo em frente, mesmo que o humor não esteja dos melhores.

Sim, pode ser que você esteja como eu, olhando para a parede e tentando conter as lágrimas. A parede, coitada, nem fez nada, foram as nossas cabeças que fizeram questão de mostrar ali uma imagem que já não existe mais. Somos traidoras de nossas próprias emoções – e, mesmo que nem queiramos, às vezes fazemos questão de punir a nós mesmas em pensamento.

Acontece. E é pesado. Não é fácil, nem de longe. Mas continuamos vivendo – sabemos que temos que fazer isso. No fundo, a gente sempre soube. E, lá no futuro, eu espero, encontraremos a nossa certeza.