você está lendo A importância de estar entre mulheres

amizade-feminina

Cresci dizendo com orgulho que boa parte dos meus amigos sempre foram do sexo masculino. Contrariando todos os filmes e séries que assisti e amava na minha adolescência, durante o ensino médio me tornei a garota da sala que andava com os garotos.

Era natural pra mim porque cresci numa família cheia de meninos. Todos os meus primos que moravam no interior e tinham mais ou menos a minha idade eram do sexto oposto. Brincar sozinha não é tão legal assim, então eu acabei aprendendo a gostar das coisas que eles gostavam na época. Isso me deu uma bagagem diferente e uma infância cheia de lembranças que envolvem lutinhas, Power Rangers, Digimon, Pokemon, Yu-Gi-Oh!, Dragon Ball Z e afins.

Fiz algumas amigas no colégio, claro, mas no geral era uma relação diferente. Eu sentia que tinha que me esforçar mais para fazer parte do grupo delas porque eu simplesmente não sabia direito como interagir. Era como se todas as coisas das quais elas gostassem ainda não fossem relevantes pra mim. Já com os garotos eu nem pensava direito. Era só aparecer, ser engraçada e continuar andando ao lado deles no intervalo ou na volta pra casa. Simples assim.

Quando terminei o ensino médio e mudei para São Paulo, mergulhei de cabeça num universo completamente diferente do meu. Redação de revista, agências de publicidade, sessões de fotos, etc. Isso abriu a minha mente de muitas maneiras, e nessa altura do campeonato eu já tinha bastante coisa em comum com outras mulheres. O problema é que parte de mim ainda não se sentia totalmente confortável ao lado delas. Eu me enturmava, conversava e até dava boas risadas, mas no final das contas algo em mim sempre preferia voltar para casa e ficar na minha.

Deveria ter feito terapia para falar sobre isso abertamente com alguém, mas não deu tempo e agora eu estou organizando as ideias aqui com vocês. Mulheres maravilhosas me ensinaram muitas coisas ao longo dos últimos anos, inclusive que não preciso ter medo de ser quem eu sou, independente de onde esteja.

Morar num outro país tem me feito repensar muitas coisas na minha vida. É como se agora eu tivesse tempo e espaço para pensar em cada uma das minhas inseguranças e trabalhá-las. Por exemplo, meu primeiro desafio aqui foi criar um mundo só meu. Meus amigos, meus lugares favoritos e desenvolver dentro de mim a vontade genuína de estar ali. Não tenho vergonha de admitir que nos primeiros meses vivi um pouco na sombra do meu namorado. Saíamos sempre com os amigos dele, nos restaurantes que eles gostavam e falávamos de assuntos que não eram relevantes pra mim. Eu conseguia me encaixar ali, mas no fundo eu sabia que precisava conquistar minha independência de novo. Por isso, há algumas semanas meu principal objetivo aqui se tornou conhecer pessoas novas e fazer amizades.

Pois bem, nas últimas semanas tenho conversado diariamente com diferentes mulheres. Algumas conheci na internet, outras são amigas de amigas de amigas que acabaram ficando mais próximas. Sabe aquele desconforto que eu descrevi? Agora é diferente. É como se nós já tivéssemos uma vida inteira em comum e pudéssemos finalmente falar abertamente sobre qualquer coisa sem medo. Sem competição, sem fofocas e sem intriga. Sinceramente não sei se a mudança foi em mim ou se agora simplesmente encontrei o meu grupo, a minha voz e bons assuntos. O fato é que estar entre mulheres tem me feito muito bem e eu precisava deixar isso registrado aqui.