você está lendo A gente se doa, mas não pode sentir dor
maos-atadas

Foto: Irenkapatrzy

Ela sempre mergulhou de corpo e alma em suas paixões.

Nunca soube amar aos bocadinhos: era tudo muito verdadeiro e, por este mesmo motivo, ela acreditava que a intensidade era inerente. As primeiras palpitações sempre abririam a porta para um mar de sentimentos. E, a partir daí, viria uma nova aventura a dois, na qual ela seria a principal comandante do barco.

Em suas relações, ela tinha esse instinto de liderança que fazia as coisas fluírem: a pessoa ao seu lado possuía total autonomia, é claro, mas, no geral, eram suas mãos que puxavam as outras, que estavam a um passo de atraso.

Não foi difícil perceber que, para as coisas darem certo, ela fazia pequenos investimentos no que parecia valer a pena. Quando ficava mais sério, os tais investimentos passavam a ser sacrifícios – que, para ela, estavam longe de significar o que essa palavra denota para outros. A garota começou a abdicar de alguns dias, abrir mão de certas coisas, colocar vontades de lado e riscar de sua agenda compromissos para colocar outros em seu lugar, tudo em prol da relação.

Não era legal, mas ela achou que valeria a pena. E seguiu agindo desta forma, até porque os resultados eram só sorrisos.

Quando a gente corre, corre e chega a tempo, às vezes nem ligamos para o tanto que corremos. Só tornamos a correr.

Foi assim que o primeiro tombo veio. Meio ruim pensar que certas lições só chegam após alguns machucados… Para ela foi assim. Apenas um coração ferido conseguiu mostrar tudo o que ela não havia entendido.

Mas bastou e serviu – tinha que ser desse jeito para que ela aprendesse e não repetisse o mesmo erro. E foi quando seus olhos voltaram a brilhar e seu batimento cardíaco ficou mais forte que ela se lembrou de que, desta vez, as coisas precisariam ser leves. Ela se jogaria, sim, mas com as cordas bem amarradas em sua cintura, para que pudesse voltar quando bem entendesse.

Assim ela foi feliz. E se pudesse contar o seu segredo para alguém, diria apenas que a gente se doa, mas não pode sentir dor por conta disso.