Dançando sem sintonia

12 de dezembro de 2016
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amor

Foto: M. Klasan

Eu pensava que dançava a dois.

Você, aí do outro lado, vai se perguntar: como é que você pensava uma coisa dessas? Porque é claro que a gente percebe quando dança sozinha e quando um outro alguém está junto da gente. Dã, ou tem alguém ali ou não tem, né?

Nem sempre. A nossa cabeça é mesmo cheia de caraminholas e, às vezes, a gente pensa que está dançando quando está só seguindo em frente. Entende? Era mais ou menos assim: eu ouvia uma música animada, tinha companhia e estava em movimento, mas a verdade é que o meu par nunca chegou a dançar comigo de fato. Ele nunca prestou atenção se alguma música tocava ou não, reparando nos versos como eu reparava, procurando significados ocultos nas entrelinhas da letra escrita por um outro alguém.

Ele nunca parou para pensar nas notas, que desciam ou subiam dependendo da ocasião e poderiam fazer da dança algo animado ou mais lento, que agitava o coração ou que o deixava quietinho, morno, só aguardando um próximo som.

Ele nunca encarou aquilo ali como o momento a dois que era. Ou, pelo menos, que eu achava que era. Porque eu seguia dançando e achando que fazíamos bonito: que bela dupla a gente formava!

Não como se todos parassem para nos ver – nós, muitas vezes, seguíamos desapercebidos pela multidão. Mas sempre a passos e compassos aqui e ali que formavam algo que, para mim, fazia todo o sentido do mundo.

Mas não tinha muito sentido. No final das contas, fui eu quem tropecei. Na verdade, ele acabou pisando no meu pé e a música, então, parou. Ao me levantar, consegui enxergar o que jamais tinha visto antes: a gente era um baita casal sem sintonia.