você está lendo Entre nós dois, não foi sorte
amor-texto

Foto: Ellenwildhagen

Você me ligou e disse um monte de coisas bonitas.

Eu realmente não esperava e você só começou a falar tudo aquilo que eu sempre quis ouvir. A cada nova palavra, meu coração dava um pulinho: eu estava imaginando que, ao final da ligação, ele já teria saltado pela garganta e caído no chão. Me desculpa, fui meio mórbida – mas é bem verdade, estava batendo feito louco e deixaria qualquer escola de samba no chinelo.

Mas, assim, sem nenhuma razão aparente, parece que você percebeu mais do que nunca o que tinha nas mãos. Notou de um jeito intenso e verdadeiro a garota que sempre esteve ali por você, ao seu lado. Colocou meu número no discador no momento em que a urgência bateu à sua porta e, do outro lado da linha, senti sua voz numa entonação que eu ainda não conhecia.

Me falou um tudo e terminou dizendo que tinha sorte por me ter por perto. 

Essa parte me marcou, porque realmente significava muito para mim. Mas, pensando um pouco melhor, percebi que “sorte” não representava bem a nossa trajetória.

Tem sorte aquele que está andando na rua e vê um bilhete premiado logo abaixo dos pés e, bom, eu não fui um achado na sua vida, tipo uma pessoa legal que surgiu por um sopro de merecimento seu. Porque você não encontrou uma alma gêmea de forma tão simples e nem eu te reconheci como o meu amor. Demorou tanto!

Eu tive que me achar dentro de mim umas mil vezes até te encontrar.

Antes de você, pensei que tinha achado o amor e quebrei a cara. Desaprendi a gostar de mim e me enxerguei da pior forma que podia, até conseguir gostar do que eu sou novamente. Por vezes, quase voltei a seguir pelo caminho errado quando o certo não parecia possível.

Eu brinquei de amar ditando regras que jamais existiam e, por conta disso, tive que crescer demais – amadurecer demais. Subi aos trancos, mas cheguei, enquanto, do outro lado, você também escalava cada pedacinho torto de uma montanha que ninguém nos avisou que haveria por aqui. É sempre assim: não há manual de instruções.

Por isso que eu digo que foi um grande processo e, quando a gente se encontrou, tudo aquilo que eu havia plantado aqui dentro durante minha vida começou a florescer.

Não foi de repente, vê? Foi uma colheita longa e essa pessoa que você ama hoje já passou por muito para ser a garota dos seus sonhos. Não foi uma simples coincidência ou casualidade.

Foi a realidade desenrolando nossas histórias, para provar que o amor quase nunca vem como nos contos de fadas: na vida real, às vezes, ele deriva de fatos até se fazer química – e tudo isso não pode ser ignorado. Porque cada um dos percalços são como marquinhas que, de um jeito ou de outro, engrandecem ainda mais o nosso amor.