você está lendo Resenha: “Nu, de Botas”, livro de Antonio Prata

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Dia desses, comprei o livro “Nu, de Botas”, do Antonio Prata. Pra quem não sabe ou não se lembra, o escritor ficou bastante famoso com o público teen após assinar a coluna da última página da Capricho de 2001 a 2008 – aquela mesma que a Bru também já comandou – e escreve na Folha de S.Paulo desde 2010. Eu ainda não tinha lido nenhuma obra do escritor e roteirista (sabia dessa? Ele colaborou para algumas novelas, incluindo a das nove que acabou de terminar, “A Regra do Jogo”) e minha última e única imersão em suas palavras aconteceu lá atrás, nas próprias colunas da CH – colunas que, aliás, eu guardava dentro de uma pastinha!

Fiquei doida para começar a devorar o livro e matar a saudade do estilo de escrita envolvente do Antonio. “Nu, de Botas” é uma coleção de contos e crônicas sobre a infância do autor, publicada pela editora Companhia das Letras, com 140 páginas. As folhas são amareladas e a fonte e o espaçamentos são perfeitos para a leitura. O porquê do título do livro? Sem spoilers, só posso dizer que deriva de uma das histórias! :P

Você reparou na parte em que digo que a obra é sobre as memórias dele, certo? Portanto, uma breve explicação: antes que você pense “ué, mas não sei nada da vida do Antonio, será que vou me interessar por isso?”, já explico: sim! O livro não é, de forma alguma, um tipo de biografia da infância. Muito pelo contrário, as memórias de Antonio são tão legais e divertidas que você até pensa que são ficção.

Sinopse: Em “Nu, de Botas” Antonio Prata revisita as passagens mais marcantes de sua infância. As memórias são iluminações sobre os primeiros anos de vida do autor, narradas com a precisão e o humor que seus milhares de leitores já se habituaram na Folha de S.Paulo, jornal em que Prata escreve semanalmente desde 2010.  (…) Os textos não são memórias do adulto que olha para trás e revê sua trajetória com nostalgia ou distanciamento. Ao contrário, o autor retrocede ao ponto de vista da criança, que se espanta com o mundo e a ele confere um sentido muito particular – cômico, misterioso, lírico, encantado. 

O livro é dividido em capítulos e cada um deles conta uma história de um dia diferente. Eles até seguem uma ordem cronológica, mas este não é um fato muito importante: você só percebe isso quando uma passagem cita, ocasionalmente, algo que aconteceu em um capítulo anterior. O autor não se prende muito a descrições amplas de cenário – há detalhes e eles te ajudam bastante a remontar a cena, mas não é nada demorado ou minucioso demais. Por isso, a leitura é bastante fluida.

Aliás, sobre o final de cada capítulo, preciso comentar: as histórias te prendem muito e há sempre um desfecho surpreendente! Com certeza você vai dar boas risadas e até se emocionar um pouquinho, viu?

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“O pior é que eu entendi perfeitamente como: o mundo era um béquer, o sol era o bico de Bunsen, os rios, lagos e oceanos eram aqueles dois dedos de água. Eu havia mordido o fruto da árvore da Ciência do Bem e do Mal e tinha sido expulso do Éden, não existiam mais bruxas nem dragões, poções mágicas ou varas de condão, e a natureza cabia num pote de maionese.”

A visão infantil sobre as coisas é ingênua e bem engraçada, sempre deixando a gente com um sorriso no rosto. Tem aquele quê de simplicidade e, ao mesmo tempo, há as comparações do narrador, deixando tudo mais complexo. Você realmente concorda com ele sobre seu entendimento do mundo e viaja em sua imaginação fértil, que se surpreende ao entender coisas que nem lembramos quando foi que as aprendemos – e se encanta com pequenos prazeres da vida.

Ao final de cada capítulo, fiquei com vontade de me sentar com meus amigos e contar as histórias pra eles. Não faz muito sentido, né? Mas, lendo, você provavelmente ficará com a mesma sensação: a gente se coloca tanto no lugar do protagonista que quase se esquece que aquilo não aconteceu com você e, sim, com ele. E os enredos são tão divertidos que você começará aquele papo de bar já pensando em falar: “Você não sabe o que o Antonio fez outro dia desses..!”

Resumo: tudo o que está lá ocorreu na década de 80, mas, se você, assim como eu, nasceu depois disso, não vai encontrar problemas. As referências e fatos do Brasil daquela época são explicadas por Antonio de uma forma cativante, você vai se envolver e gostar bastante do que estiver lendo. São histórias levinhas e que passam tão rápido que você fica querendo mais. Amei o livro e já estou louca pra ler outras obras do autor! Ah, se quiser comprar o “Nu, de Botas”, é só clicar aqui. :)