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timidez

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Vou colocar a cara no mundo. Não ligo se a sua vontade é de trancar a porta e esconder a chave: sei muito bem onde ela está. Aquela série nova que você acabou de dar o play, só para eu sentar no sofá e deixar horas e horas passarem a fio? Verei apenas quando voltar. Agora, não. Tenho que sair e fazer o que precisa ser feito. Falar com todas aquelas pessoas que você insiste para que eu não fale. Andar por todos aqueles lugares que, antes, faziam minha mão transpirar. Apresentar o trabalho em frente às mesmas pessoas que, aprendi, são só pessoas. O que há de mal nisso tudo? Nada. Por isso te escrevo:

Cara timidez, 
hoje, não.

Dessa vez, você não vai me pegar. Tem ideia do quanto já me atrapalhou? É claro, você mal sabe. Pra você está tudo bem, as coisas são assim mesmo e, se você pudesse, me trancaria dentro de uma caixinha escura e abriria as tampas bem de vez em quando, só quando não houvesse um outro jeito.

Lembro quando me dei conta da sua influência sobre mim. Um singelo “triiim” ressoando no corredor de casa – sim, eu ainda guardo aquele velho telefone na lembrança! – era motivo para eu me revoltar toda. Não vou atender. Não vou falar com ninguém. Me lembro muito bem o que eu pensava: outra pessoa que fale, oras!

Simples, não é? Eu via como algo bobo, mas os costumes trazidos por você começaram com bobeiras inocentes como essa. Depois? Virei aquela pessoa que conta os dias e, quando o evento se aproxima, torce para que as horas passem o mais rápido possível. Aquela pessoa que perde oportunidades porque tem medo de falar algo que possa estar errado. Aquela pessoa que evita conhecer novos amigos porque tem vergonha do que essas pessoas irão pensar da sua aparência, de seus costumes, de suas vivências.

O que aconteceu a seguir você já sabe. Ah, e como! Ainda bem que a tal da confiança chegou, toda espaçosa, sentou ao meu lado quase me empurrando e, em um papo claro e reto, me deu o ultimato: escuta aqui, queridinha.

Eu escutei. Prestei atenção, ah sim, como prestei. Não bastou uma conversa muito longa, não, já que aquilo ali era mais franco e compreensível do que a matéria da prova de matemática. Entendi tudo que você tinha feito questão de guardar lá no interior mais sombrio dos meus pensamentos. Me olhei de outra forma, me reafirmei e dei um respiro aliviado.

Ufa!

Finalmente eu podia ver o tamanho da sua influência sobre mim. Reprimida, eu não enxergava o fato principal que faria você ir embora: eu sou uma pessoa incrível. 

Mesmo que você diga que estou sendo convencida, sei que não. Eu só aprendi a me amar do jeito que sou e vi que todo o conjunto de coisas que me fazem ser exatamente essa pessoa que escreve agora merece ser mostrado para esse mundão. Que tremendo desperdício guardar tudo isso! E era justamente o que você queria. Não rolou, tá?

E foi isso que me fez te dar esse adeus sem precedentes. Agora é pra valer, pode ir embora e leve junto toda aquela insegurança que você fazia questão de instalar em mim, como atualizações de um aplicativo de smartphone. Essa minha nova versão não teme o novo, e sim entende que ele faz parte do ciclo natural das coisas. Deixarei a porta aberta para o novo entrar.

Por isso, prepare-se, pois estou saindo e vou mostrar quem sou sem o medo de a sua sombra me perseguir. Você não vai me consumir e tampouco pensar em intervir em nenhuma partezinha – por menor que seja ela – dos meus anseios e pensamentos.

Agora estou livre e, por isso, já aviso: trate de ficar bem longe.