Caro adolescente,

03 de abril de 2014
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Quando você tiver 22 anos, como eu, você vai se ver em um meio termo apavorante. Ainda vai ter medo de dizer que chegou de vez no mundo dos adultos, mas já não vai poder ter seus erros perdoados por ser “novo demais”. Nesta fase, em que você começa a pensar no que vai ser da sua vida daqui pra frente, você quase não vai ter tempo de olhar para trás e ver como ela era até ontem. Mas a verdade é que nós, pessoas de vinte e poucos, fomos você outro dia. E eu ainda me lembro das graças e desgraças. Das dores que você chora escondido. E das gargalhadas que solta sem medo.

Eu nunca achei que eu ia acabar olhando pra você e querendo dar conselhos. Até porque aos 22, diferente dos 16 anos, você não pensa mais que sabe tudo da vida. Aliás, quanto mais velho você fica, menos da vida você parece saber. As certezas acabam, se vale o aviso. E você começa a questionar mais coisas, mudar de opinião com mais frequência e se propor a ouvir os argumentos dos outros em discussões que antes batia o pé. Mas, como eu disse, eu olho para você e sinto vontade de avisar. Ainda que você não me escute.

Acho que o que eu mais quero dizer é pra você ter cuidado. Você já ouviu coisas do tipo “cuidado com quem você anda”. Mas nem é isso, não. Minha dica é: cuidado com quem você se transforma perto de outras pessoas. Você pode ser amigo de quem quiser e dá para ser amigo de pessoas totalmente diferentes de você. Apenas não se deixe mudar por causa do ambiente. Tenha personalidade de dizer não quando preciso. E não tenha medo de lutar pelo o que você acredita. Isto é bem melhor do que se deixar levar pela correnteza.

De qualquer forma, preserve seus amigos de escola. Você vai sentir falta deles um dia, porque de vez em quando você precisa de alguém que te conhecia quando você nem tinha, realmente, uma personalidade formada. Eles vão ter passado por fases tenebrosas ao seu lado, então talvez entendam melhor do que os que aparecerem depois. Mas preserve aqueles poucos e bons. Abandone este desejo imenso de ser popular. Acredite, não vale de nada.

Aceite: o mundo não te deve coisa alguma. O que quer dizer que seus sonhos não vão cair no seu colo de mão beijada, ainda que você possa ter crescido com a sensação de que merece um troféu. Uma hora você percebe que vai ter que lutar pelo o que quer. E isso inclui deixar certas diversões de lado e arregaçar as mangas para chegar lá. Não, nem sempre vai ser legal, divertido, com festas e bebidas como nos filmes. Às vezes vai ser apenas cansativo. Faz parte.

Não tenha tanto medo do futuro. No fim, ele acaba nem sendo tão assustador. Se escolher a faculdade errada, tudo bem. Você pode parar e começar de novo. Aliás, anote isto: a maior parte dos seus erros poderão ser consertados. Basta você se propor a fazer isso.

Esta é a melhor parte: as dores da adolescência não matam. O coração partido vai cicatrizar, as inseguranças vão diminuir e você vai seguir a vida. Eu sei, parece papo de quem já tá bem velho e não sabe mais de nada. Mas é como eu disse: eu fui você outro dia. Chorei o mesmo tanto. Tive os mesmos medos. E ó, tô aqui, vivinha. Acredita em mim? Espero que dê tudo certo por aí.