O reflexo e eu

09 de setembro de 2013
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corpo-comportamento

Photos via: Marija Strajnic

Eu tive problemas com o espelho como a maioria das adolescentes com quem eu convivia. Olhava meu reflexo e era sempre assim: estou gorda demais, magra demais, meu cabelo não colabora, meu nariz é grande e feio, sou muito alta, sou muito baixa, sou muito eu. Acho que, durante muito tempo na vida, a gente cresce tentando se espelhar em alguém que não seja o próprio reflexo. Na melhor amiga, nos pais, naquela tia super legal que conhece o mundo, em um ídolo. A gente vive por aí procurando exemplos de como a gente queria ser, o que a gente queria fazer e o tipo de vida que a gente queria levar.

Demora um pouco até a gente reparar que o outro nunca vai refletir quem a gente é de verdade. E não é tão fácil aceitar que não precisamos ser igual a ninguém (sempre parece clichê demais ouvir que o “diferente é normal”). Demoramos a aceitar a própria aparência, nossas características, manias e limitações.

Quando eu era mais nova, minha mãe costumava dizer que minhas neuras adolescentes um dia iriam acabar. Eu não acreditava. Afinal, eu sempre odiaria as mesmas coisas em mim. Já até sonhava em fazer uma plástica aqui, outra ali. Aí um dia eu cresci e minhas neuras se esconderam em algum lugar da minha mente e ficaram por lá. De vez em quando, os hormônios se descontrolam na TPM e elas aparecem. Mas logo a vida as empurra de volta para seus postos. Comecei a ter coisas mais importantes para me importar.

De verdade mesmo, uma hora a gente repara que os próprios  defeitos não são tão terríveis assim. E se são, para tudo dá-se um jeito. Uma hora a gente para de tentar copiar todo mundo. Porque descobre que ninguém é perfeito – nem aquelas pessoas que admiramos tanto. Um dia, aprendemos que procurar “exemplos perfeitos” é cruel – com a gente e com quem a gente coloca no pedestal. E aí, finalmente, a gente olha para o espelho e acaba com os próprios monstros internos.

Talvez isso demore a acontecer. Talvez a gente demore a se aceitar completamente. Talvez a gente nem faça as pazes, de verdade, com o espelho. Mas dá sempre para mudar o corte, pintar o cabelo, fazer ginástica, mudar a alimentação ou até uma plástica como medida drástica. Mas tranquilidade mesmo, a gente só consegue quando se aceita. Com as nossas limitações e a nossa força. Talvez, alguns dias, olhar para o espelho realmente doa. Olhar para o outro também. Mas olhar para dentro da gente? Te juro, pode ser renovador.