você está lendo O ciclo vicioso do “meu cabelo tá horrível”

autoestima

A mulher que nunca se viu insatisfeita com seu corpo que atire a primeira pedra. Parece impossível encontrar uma mulher que se goste 100%, e a prova disso são os banheiros femininos. É sempre “Meu cabelo tá horrível” “Seu cabelo? Olha essas minhas olheiras, amiga!” e por aí vai…

Em alguns momentos, parece que essas autocríticas coletivas são simplesmente pra fazer a amiga se sentir menos mal, pois se ela está vendo seus próprios defeitos, é uma questão de cortesia e educação mostrar que você não se acha perfeita, certo?

Qual é o problema em se gostar? Será que nós não conseguimos nos ver perfeitas por que nos comparamos a mulheres irreais ou por que é quase criminoso se sentir linda? Acho que as duas opções acontecem simultaneamente. Primeiro, crescemos com mil revistas e filmes nos mostrando como as mulheres ~gostosas~ devem ser. A regra é: cinturinha, peitão, bundão (sem celulite, claro!), cabelo longo, liso e loiro, olhos claros e lábios carnudos. Unhas bem-feitas, pele de pêssego e depilação sempre em dia. Cara, alguém no mundo é assim de verdade? Tira o photoshop e bota a criatura numa luz comum (sem ser com aquela perfeição de estúdio) e vamos ver se ela é tão linda assim.

É claro que nossas musas cinematográficas podem ser admiradas por seus atributos físicos, mas nunca esqueça do tanto de produção por trás de cada foto, cada cena. Maquiadores, figurinistas, cirurgiões plásticos, fotógrafos, editores de imagem e uma equipe gigante trabalhando pra transformar aquela mulher numa deusa (uma louca uma feiticeira).

Agora, em relação a se amar na frente das amigas. Já imaginou se algum dia a gente responde ao tradicional “meu cabelo tá horrível” com um “o meu tá ótimo, bem do jeito que eu queria”. É até engraçado imaginar essa cena. (Na minha cabeça, a outra garota solta fagulhas pelos olhos assim que ouve a resposta.) Tá, não estou dizendo que isso é legal de se fazer, afinal poderia magoar a amiga. Mas precisa fazer um combo de autocrítica? “Meu cabelo tá horrível” — “Minha pele tá oleosa” — “Estou gorda” — “Preciso de uma plástica!!!” SOCORRO, NINGUÉM MERECE TANTO DRAMA.

Todo mundo tem suas próprias inseguranças com o corpo e o quanto antes lidarmos com isso, melhor. Eu ouvi minha vida inteira que eu era gorda. Hoje, quando alguém comenta isso em um vídeo meu, quase rio. Aquela pessoa insignificante (que raramente assina com nome e avatar) acha que vai me fazer sofrer mais do que eu mesma já sofri quando era adolescente? A gente se culpa, se sente mal e acha que ninguém nunca vai gostar de nós, só por causa desse mísero defeito.

E quando você menos esperar, esse defeito pode tomar dois rumos: ou vai sumir (no caso, você fica magra), ou vai virar apenas mais uma característica, que você não liga que faça parte de você. Estou acima do peso? Pode até ser, mas isso não tem nem um pouco de impacto na minha autoestima.

E é por isso que eu acho essas sessões de apontar defeitos no banheiro feminino algo tão negativo. Elas são basicamente um ritual de glorificação aos defeitos. Apenas os defeitos são dignos de menção, seja na esperança de receber um elogio de volta ou de mais defeitos ao redor, pra que você não se sinta tão mal. Deu pra entender?

O mimimi sempre é melhor recebido, porque quando a gente se sente bem e comenta algo positivo a respeito de si mesma, é arrogante, metida, se acha demais. Dane-se, eu me sinto bem e me acho linda! E você que leve esse seu cabelo asqueroso pra longe do meu, filha.