Ontem não é quase hoje

28 de novembro de 2012
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Olho nos teus olhos e você desvia. Seguro sua mão e você logo solta sem perceber. Te abraço forte e você só me cumprimenta. Te convido e você desmarca. Logo depois reclama da rotina. Te ligo antes de dormir e você não diz quase nada. Coloco nossa música para tocar num sábado à noite, lá em casa, e você nem percebe. Fico horas aprontando na frente do espelho, espalho tudo em cima da cama, e você se atrasa por puro esquecimento. Te dou de bandeja meu futuro e você ainda se engasga com seu maldito passado. Vou de táxi, metrô e pensamento. Corro contra o tempo e você fecha os olhos, disfarçando, para ele passar sempre um pouquinho mais rápido. O porta retrato continua virado. Decorei suas pintas e você não sabe nem o número do meu celular. Não é bem uma novidade, mas meus melhores amigos te detestam. Nem me importo. Melhor mesmo é sentir seu perfume. O gosto doce da sua boca. Coloco meus braços na sua cintura e fingir que acredito que você ainda se importa.

Dizem que eu deveria estar sorrindo agora. Que sou uma boa garota e tenho um futuro brilhante pela frente, mas meus dias parecem cada vez mais opacos. O batom vermelho ficou sem cor. Meus maiores sonhos perderam toda a graça e as receitas para te esquecer já se esgotaram. Tenho uma pilha enorme de livros para ler, mas não consigo mudar de página sem pensar em nós dois. Sempre imagino que poderia ser nossa história.

Não sei o que fez ou fiz de errado. Mas te juro, não é tão grave assim.
Só precisamos descobrir onde a antiga graça se escondeu.
Ela deve ter levado nossos sorrisos.

Ontem bebi e disse besteiras que neste exato momento latejam na minha mente. Não consegui dormir e fiquei a madrugada limpando toda a sujeira da sala. Antes você amava minhas loucuras, mas agora diz que preciso me curar. Meu bem, sinto em dizer, mas não estou doente. Não é vírus. Não é bactéria. Não é culpa da mudança de tempo dessa cidade cinza e barulhenta. É você. E não tem cura.