você está lendo Vivendo as diferenças

libras

Na semana passada, fui convidada para fazer parte de um projeto na faculdade e a única coisa que me disseram foi que o tema tinha a ver com Língua Brasileira de Sinais, ou Libras. Aceitei, mesmo sendo uma completa leiga no assunto. Não sabia nada sobre esse tema, assim como a maioria das pessoas que não convivem com um surdo, eu acredito. Esse fato me chamou bastante atenção, e depois que minha orientadora explicou o projeto todo, eu me preocupei mais ainda. As pessoas parecem não ligar para o fato de que existem surdos com idade escolar fora da escola – a não ser por um grupo ou outro de pessoas que lutam pelos direitos da comunidade surda, mas não são muitos. Às vezes, os próprios pais se recusam a matricular o filho surdo na escola, com medo de que este seja alvo de preconceito. Mas também, qual mãe coloca seu filho surdo no meio de uma sala cheia de ouvintes, para assistir uma aula falada, e no fim ele acabar não entendendo nada? Se a gente pensar melhor, realmente faz sentido. Mas porquê isso tem que ser algo que impeça uma criança de ter a educação que ela tem direito?

Às vezes, a gente se depara com lugares adaptados para cadeirantes, tradutora de Libras nos programas de TV, e acha isso tudo muito interessante, e importante, mas será que é só isso mesmo? É só adaptar a vida da pessoa ‘normal’ à vida dos outros? Na verdade, o que é ser ‘normal’? É tão difícil perceber que ninguém é igual a ninguém? Existem diferenças em todas as coisas! Alguém tem o cabelo loiro, o outro tem cabelo enrolado, o outro orelhas grandes, o outro não tem uma perna, um não fala, o outro não escuta. Qual é o grande problema nisso tudo? E se todas as pessoas no mundo fossem surdas, e apenas alguns de nós fôssemos ouvintes? Será que nós aceitaríamos que furassem nossos tímpanos, para ficarmos também surdos, para aí sim nos tornar iguais aos outros? Acho que não, né? Lidar com essas diferenças não significa mudar as pessoas para que elas fiquem parecidas com as outras. Não é só conviver com as diferenças, temos que vive-las, do jeito que elas são. Não é só adaptar as coisas para que possam fazer tudo que a maioria das pessoas fazem. Não! Lidar com isso, é ver alguém usando língua de sinais e perceber que aquilo não é algo anormal. É olhar para uma rampa de acesso a cadeirante e ter a certeza de que ela está ali para que todos possam ter os mesmos diretos. É descobrir que, como todas as outras, essas diferenças não fazem tanta diferença assim.

Agora, que vou mergulhar de cabeça no projeto, e quem sabe, me formar no curso de Libras, levarei sempre a certeza de que não devemos separar quem é surdo, cego, mudo, cadeirante, sofre de alguma síndrome, loiro, moreno, negro, branco, asiático, menino, menina, uns dos outros. Somos todos humanos, e apesar de sermos tão diferentes, temos algo em comum: a vontade de ser feliz, e o direito de conseguir.