você está lendo Primeiro desencontro, pós perfeição

Sinto só essa falta que não posso, que não é minha. Que eu até mesmo já achava que tinha daqui sido foragida, tresloucada. Porque esse é um outro primeiro encontro, e não tem você. Não tem as nossas mãos, frenéticas desconhecidas, pelo shopping enorme da cidade, e nem os beijos com promessa de paixão eterna, no escuro do cinema. Teve um jantar interessante, em restaurante bacana, daqueles em que eu me sinto uma idiota comendo errado, com os talheres que não me são conhecidos. E eu pensando que se fosse como naquele final de tarde, em que a gente jantou sanduíche naturais iguais, sem tomate, – lógico – o mundo teria o sabor que tem você. Sem a sua altura, eu de salto me sentindo uma gigante nessa terra de gente endinheirada, a qual não pertenço. Um mediano, pode? Logo eu, a pequenina em toda sua vastidão de homem grandioso por fora, e um moleque por dentro, tendo a sensação de pertencer a um time de basquete. Eu, tão mulherão, tão grandiosa, com um ser de estatura média que ao meu lado de salto onze, fica também do meu tamanho.

Por mais que tenha carro lindo, com cheirinho de novo, e uma carteira farta em grana. Tudo porque eu queria que fosse você, com o seu sotaque inconfundível, parecendo feito sob medida pra mim, perfeitos um ao lado do outro. Quero a sua pressa alternatia , tão condizente à minha – sempre presente. Dois envolvidos apaixonados, dois queridos comuns, dois lindos complementares. Éramos nós. Olhando as vitrinas que mostravam cachorrinhos com pedigree, pensando que quando a gente morasse juntos, e eu fosse uma daquelas esposas que cozinha esperando para o almoço, eu daria comida tanto à ti, quanto a ele. Não como mãe, mas como mulher mesmo. Poderia até ser a sobremesa depois do jantar, que você e essa sua boca são irresistíveis. E pode ver, eu continuo sentindo tudo isso, e cuido pra não entrar nessas de deprimir ainda mais a vida. Fico embalada nessa minha felicidade, perseguida.  Sem compreender porque Deus faz isso com a gente, e esquece o dó, a piedade num piscar de olhos. Só fui eu, esperando o carro amarelo parar em frente à minha casa azul, chorando pela tua ida, ainda diluída no meu pranto noturno. E você, cagando pra mim. Morando perto, sendo simples, e comprando em lojas baratas, como eu. Jantando nos restaurantes de preço acessível, assim como as minhas amigas, e família. E claro, eu mesma também. Que te evito, e te sinto a falta como quem tenta respirar, mas tem asma; sempre em falta, suplicando por mais e mais e mais. E agora choro. Querendo não deixar que as lágrimas me inundem, porque já o fiz tanto, e nada me adiantou. Continuo querendo sempre amor, e você não se arrepende nunca. Já que ensaia ser tão adulto e independente, mesmo não resistindo aos cafunés na beira da cama, e às dançadinhas em frente ao espelho.E eu, simplesmente ria. E falava, muito. Te fazia sorrir. Cantava contigo, as músicas bregas, as canções sem letras bonitas. E tudo que eu escutei depois de sair com o ricaço foram batidas de música eletrônica, que me dão enxaqueca. Eu fico aqui, depois de um primeiro encontro peculiar, querendo o nosso primeiro encontro, exato. Perfeito. Que eu não sei onde foi parar. Que eu já tentei de tudo pra resgatar. Mas que eu sei que não volta, porque eu surtei, e você não acredita mais naquela versão minha independente e bonita, e que você ia se apaixonar, só que não aconteceu. Choro, e escrevo, e intercalo as duas ações, freneticamente. E espero que um dia você leia isso, mesmo que seja postumamente, ou que reunam algumas cartas dessa dor que eu encontro como quem acha um roxo no meio do braço: em estado de surpresa. Daquelas que a gente cai, e acha que não vai deixar marca. Mas que quando a gente passa de leve a ponta do dedo, só machuca. Dói, dói e dói.  Esperando que cure, que passe, que você quem sabe volte com um buquê e sem ligação, tocando a minha campainha sem que eu espere, e diga: desce que tu é o amor da minha vida. Meio Romeu você, eu totalmente Julieta. Desglorificados pelo nossa paixão eterna que deu errado pelo vilão mais inconsequente possível: o destino. Então pulando para a realidade, relembro que a chance disso acontecer é nula, o que só aumenta minha tristeza.

Permaneço nem sei como sem aquela promessa que você deixava escrita na minha nuca, e no perfume seu que em mim carimbava, de que a gente seria amor de verdade, casal pra ver o outro envelhecer, vencer ao lado. Não é você e seu carro popular me levando pra casa, e me dando um beijo quente e mais um, e não me deixando procurar as chaves, ou entrar em casa com as pernas amolecidas. Sou eu num abraço desajeitado, completando que foi muito bom, e abrindo a porta feliz, mas tudo sem nem uma gotinha sequer de paixão. Nenhum rastro. Paparicada, mas não amada. E hoje, triste. Tão de repente que quase nem notei, se o olhar atento não estivesse ao peito.

Passei no shopping, e te procurei com o olhar. Nada vi, como sempre. No seu habitat, sem a sua presença. Perda de tempo. Lágrimas correm, como uma criança que cai, e nem dói mais, mas chora ainda assim. Fico cansada de chorar por você que nem ao menos se preocupa se estou viva, se estou bem, ou hospitalizada e em coma, sem ter o que fazer frente à esse seu tanto faz que urge nos meus ouvidos. Choro, quem sabe, porque sou fraca e medrosa pra ir além e tentar sabendo que dará errado, e essa é a última e única coisa na lista do que ainda é possível, antes que eu enlouqueça. Você que caga com a minha existência, e eu que produzo essa pilha de textos todos montados pela mente, tão triste; guiados pelo coração. Porém que extinguam momentaneamente esse sentimento de tudo que poderia, e não decolou: esse avião a que quis decolar, e fui impedida. O bom é que a pista anda livre, a vida tem seguido. Sem notar também, como essa dor que nem ao menos sabia existir, daqui uns dias sorrio surpresa.