você está lendo Nós dois fomos infinitos
Foto: Flickr/Godfrey DiGiorgi

Foto: Flickr/Godfrey DiGiorgi

Este é definitivamente o último texto escrito diretamente a você. Os outros, muito provavelmente, só citarão casos aleatórios que aconteceram com outras pessoas e que, graças a Deus, não terão nenhum impacto direto em mim. Mas este, obviamente, não se encaixa no último caso. De qualquer forma, vou tomar cuidado e me certificar de que nada seja deixado pra trás.

Antes, preciso dizer que esses dias passei em frente ao MASP pela primeira vez desde que… você sabe. Tudo estava incrivelmente diferente e extraordinariamente igual. Cada passo era como voltar no tempo. Eu andei a Avenida Paulista toda e juro que quase pude ver nós dois ali, andando juntos e sorrindo um para o outro sem nenhuma preocupação, exatamente como há alguns meses. Desculpe, não tem como não lembrar. Sabe que eu ainda tenho na cabeça a música que me faz pensar naquele dia? E sempre fará, não importa quantos momentos vierem depois. Ela é a trilha sonora perfeita, fazer o quê?

Acho que a primeira coisa que tenho a dizer é obrigada. Por ter sido o meu acaso mais bonito. A improbabilidade mais certa de todas – algo como aqueles cinco minutos de atraso que mudam tudo. A minha melhor história até agora. A melhor música do ano. O meu infinito por muitos dias… mesmo que agora você não faça mais parte do meu calendário. Acontece.

Em segundo lugar, que difícil: quero dizer que te deixo ir. E já deveria ter dito isso há muito tempo. Então digo agora que estou oficialmente te expulsando daqui. Mas de um jeito bom. Depois de eu ter sido o melhor de mim mesma e de você ter despertado uma parte minha desconhecida. Depois de a gente ter se apaixonado do nosso jeito, talvez mais eu do que você. Depois dos planos agora jamais cumpridos, dos beijos feitos de certeza naqueles dias e do sentimento na maior escala até agora.

Então eu te deixo ir. Porque me importo, porque ainda sinto, porque te quero bem. Então te deixo ir porque mesmo não estando aqui, as memórias que fizemos não vão embora. Marquei e fui marcada também. Por algumas horas, alguns dias ou um mês, não me importa. Te deixo ir, mesmo não acreditando nas suas desculpas. Mesmo se souber que o lugar em você que foi meu por um pequeno tempo está preenchido por outro alguém. Mesmo que não seja mais de nós dois que você se lembre antes de dormir.

Te deixo ir porque te quero bem, mesmo que não seja comigo.

E não pense nem por um segundo sequer que o arrependimento vem me visitar em noites mal dormidas. Minha consciência sabe que fez tudo o que podia. Talvez até mais. Abracei forte, beijei devagar e sorri grande. E realmente não importa se hoje já não existimos mais, porque naquele momento, enquanto andávamos de mãos dadas por entre os prédios brilhantes da cidade, nós dois, absolutamente, sem dúvida alguma, fomos infinitos.

 

Por Isadora Bispo, 19 anos, São Paulo (SP).
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