você está lendo Desapego: você o conquista ou ele te consome?
Foto: Flickr/Sofie

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Você nasce, cresce, se reproduz e morre.

Você nasce, cresce, se reproduz e morre?

É isso o que aprendemos na disciplina de Ciências enquanto cursamos as primeiras séries na infância. A gente automaticamente espera por nosso crescimento, sem perceber que já estamos nele.

Mal sabe você que nascer, crescer, se reproduzir e morrer é bem mais complexo do que o livro explica. E que estas não são, nem de perto, todas as fases que você enfrenta na vida.

Provavelmente, não te contaram que crescer é a junção de tudo o que acontece e deixa de acontecer com você, desde o momento em que nasce, aprende a fazer a primeira bolha de baba, a mostrar a língua, falar a primeira palavra, andar, escrever, ler, ouvir. Até morrer pode ser um aprendizado e, consequentemente, parte do seu crescimento. Que doido isso. Que lindo isso.

E, nesses vastos, felizes e às vezes sufocantes momentos de crescimento, você agrega à sua vida valores, manias, desejos e pessoas. Sempre achando, na imatura inocência, que vai ser para sempre (o que é ser “para sempre?”). Você nunca se apega a alguém ou algo pensando no dia em que ela/aquilo vai partir. Este, dentre outros, é um dos piores erros que você comete durante o seu crescimento.

Nós somos tolos – e mais de uma vez. Pensamos no futuro, seja muito ou pouco, e ele é formado por sonhos sendo alcançados, mas sempre com alguém ou algo (normalmente, mais alguém do que algo) a seu lado. Então o destino vem e brinca. Você pisca. Não está mais lá.

A culpa é sua?

Pense um pouco no dia em que as pessoas e as coisas vão te deixar. É complicado, dói, mas faz parte das fases que você estuda lá atrás. O “morrer” não precisa ser físico, você pode morrer no mundo de uma pessoa quando escolhe se afastar.

Pois ame, apaixone-se, abrace, beije, sorria, ame mais um pouco. Apegue-se, mas se policie, amanhã pode ser diferente. Desapego é necessário, é uma fase, todos passam por ela. Alguns no desapego ficam, emperram-se e de lá não saem, mergulhados na falta que faz alguém ou algo (de novo, mais alguém do que algo). Esta é a linha que não devemos cruzar: o desapego vem, você demora a aceitar, mas se conforma.

Você precisa se conformar. Sua vida não é um desapego, ele é uma fase, lembra? Faz parte do crescimento. Ele não te consome, você o conquista. Você não é a pessoa que te deixou. Você não é a pessoa que vai deixar. Você não é uma situação, você passa por ela.

Você é o seu crescimento. Apegue-se a ele.

Obs1: Pessoas vêm e vão, é um fato. Mas, para toda regra, há sempre uma exceção – e  quem sabe a ela você pode se apegar? Aprender a identificá-la talvez seja o maior desafio que você vai enfrentar.

Obs2: Para a morte física não há volta, pelo menos até onde sabemos. Mas e para “morrer na vida do outro”, há volta? Costumo pensar que esta, talvez, seja a real definição de um renascimento.

 

Por Lavínia Souza, 21 anos, Recife (PE).
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