Era ela

21 de maio de 2018
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Foto: Reprodução/Amelie Satzger

Foto: Reprodução/Amelie Satzger

Chega o próximo da fila, com um livro esperando para ser autografado e faz a mesma pergunta que todos os outros fizeram: “De onde veio a inspiração para tão belos versos?”

Mais uma vez você vai repetir o que ensaiou em frente ao espelho, em silêncio para o reflexo. Vai dizer que as influências vieram de “Amor nos Tempos de Cólera”, juntamente com o Simbolismo, os portões de ouro do Castelo de Versailles e, por fim, os velhos sapatos de verniz.

A pessoa agradece a explicação e sorri com o brilho nos olhos de quem, agora, consegue entender todo o sentido.

Em nenhum momento, breve que seja, você vai citá-la.

Ela, que você conheceu por acaso no aniversário de um amigo. Ela, que saiu com você em um sábado de sol – usando um vestido de linho amarelo. Ela, que roubou um beijo seu no meio de uma exposição. Ela, que tocava violão para você acordar. Ela, que sujou o seu rosto inteiro de batom vermelho. Ela, que fez sopa para a sua febre passar.

Ela, para quem, um dia, depois de algumas doses de whisky, você falou coisas que machucam.

Ela, que, depois que você implorou, voltou para os seus braços. Ela, que não teve as mensagens respondidas e para quem você não abriu a porta, mesmo sabendo que estava chorando do outro lado. Ela, que você deixou ir, mas não queria ter deixado.

Logo ela, a verdadeira fonte desses sentimentos estranhos (que você sempre tentou traduzir em palavras).

A fila anda novamente e mais uma pessoa se aproxima. Você reconhece aquela voz, que pergunta: “Pode me dar um autógrafo?”. Os rabiscos formam a sua assinatura, mecanicamente.

“Obrigada”. Você levanta a cabeça. O que te resta apenas é assistir abobado ao que se vai, esbanjando charme e sem olhar para trás.

Era ela.

 

Por Barbara Passos, 21 anos, Balneário Camboriú (SC).
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