você está lendo A caixinha de pensamentos sem rumo
pensar demais

Foto: Ethan Coverstone

Imagine só se cada pensamento que passasse por nossas cabeças jamais retornasse ao mesmo lugar?

Foi nisso que ela pensou naquele momento. Às vezes, ela só queria deixar a cabeça livre de preocupações. Em outras, sua vontade era de buscar um pouco de paz – e nem era do tipo que demanda qualquer esforço externo: era uma paz que tinha mais a ver com o seu próprio interior.

Ela sabia que o problema era a forma com a qual estava encarando os últimos acontecimentos de sua vida, incapaz de fazer com que eles fluíssem naturalmente e, talvez, chegassem a um fim. A grande questão era o fato de que ela ficava repassando-os um a um, sem se permitir esquecê-los.

E não era uma questão de memória forte, rancor ou nada do tipo, mas apenas um sentimento parecido com a preocupação, que a afligia e a tomava por completo. Nisso, tal como um álbum de figurinhas, ela folheava os cromos despertando cada sensação como se tivessem acabado de acontecer – mesmo que fossem parte do passado há tempos.

Ela nem sabia porque fazia isso, mas fazia. E quando se deu conta, percebeu que, assim como numa rotina (tipo a sua Netflix de quinta à noite), aquilo estava contido nela como uma parte de seu dia – que ela não gostaria de ter, mas mantinha como um ritual.

Como era difícil! Seria tão bom tocar a vida sem pensar o tempo todo no banal, deixando de desviar o foco para qualquer coisa sem a menor importância e se ver livre do que passou – ou do que estava por vir. Ela se sentia ansiosa o tempo inteiro e isso não ajudava em nada.

Foi então que a garota tomou a decisão de encarar todo este processo como uma forte característica dela mesma, sendo defeito ou não, que teria que explorar de frente, com coragem – caso realmente quisesse mudar.

A partir de agora, ela relutaria cada vez que se arrependesse de algo. Precisaria se convencer, na marra, de que as coisas não dariam errado necessariamente. Teria que fazer o papel da melhor amiga fiel de si mesma caso seus pensamentos sem sentido voltassem a bater em sua porta, sempre lembrando-se de que aquilo não era necessário e de que tudo ficaria bem.

Não seria fácil. Mas ela sabia que era importante. E este foi o primeiro raciocínio (que ironia, não é?) que abriu as portas para que ela cuidasse de si mesma e de sua caixinha de pensamentos, que há tanto tempo estava sendo mal utilizada. Ela tinha o controle sobre todos eles – e agora chegara o momento de governá-los.