você está lendo Diário do intercâmbio: o embarque #1

Nessa vida eu já tive a oportunidade de viajar para muitos lugares legais. Nem no meu sonho mais maluco da adolescência quando eu rabiscava minhas metas de vida na última folha do caderno de matemática eu imaginei que um dia poderia contar essas histórias sem nem usar minha imaginação ou cenas de filmes que assisti. Eu tento nunca me acostumar, sabe? Quero continuar achando tudo isso surpreendente mesmo que seja parte de quem eu me tornei. Quero escrever todas as lembranças para eu sempre poder voltar e saber como exatamente me senti naquele momento. É por isso que vou começar a compartilhar aqui no blog alguns dos trechos do meu diário pessoal. Os vlogs sobre as experiências em tempo real continuam lá no canal. A ideia aqui é falar sobre detalhes, sentimentos e todas as outras coisas que nem sempre aparecem em vídeo.

Dia 01

Se eu fechar meus olhos ainda consigo lembrar de como a vida era antes de tudo ser tão definitivo, mas eu não tenho tempo para isso agora porque o trânsito está caótico e chuva não para. O rádio disse que foi um acidente na estrada. Confiro pela milésima vez se o meu passaporte está na bolsa. Mesmo não sendo meu primeiro embarque internacional, sinto aquele frio na barriga que é uma mistura de sentimentos difícil de explicar. É um medo do que está ficando para trás com uma ansiedade do que está por vir.

Dessa vez não estou sozinha. Respiro fundo e deixo meu pulmão esvaziar até aquele aperto quase desaparecer. Parte da minha família está decolando comigo nessa aventura. Berry vai viajar pela primeira vez, então eu e Pedro estamos apreensivos com as longas horas dentro do avião e toda a burocracia para entrar com um cachorro em outro país. Pais de primeira viagem. Literalmente.

Ele, como sempre, estava mais preocupado que eu. Pedro é absolutamente organizado e pontual. Eu sou bagunceira e quase sempre estou atrasada. Odeio (ele diz que eu gosto) a adrenalina, mas comigo é meio inevitável. Acho que formamos uma boa dupla, porque conseguimos chegar a tempo para o último passeio da Berry antes de embarcar e uma ida rápida ao banheiro. É mais difícil quando você tem um cachorro porque todas as crianças da fila querem brincar, passar a mão e saber o nome. Berry adora fazer novos amigos, mas naquele momento sua maior preocupação era saber onde aquele terminal cheio de seres humanos atrasados iria nos levar.

Durante a decolagem fiquei olhando da janela a cidade iluminada ficar cada vez menor até desaparecer completamente. Lembro de como foi chegar ali pela primeira vez sozinha e me sentir um pontinho pequeno e insignificante no mundo. Eu não sabia de nada, achava que sabia tudo. Depois de quatro anos, quem diria, aquela cidade cinza do livro de Geografia virou minha casa, minha rua, meu parque, meu lugar. São Paulo me deu de presente uma carreira, uma casa, um amor e mais um monte de sonhos. Um deles, como da outra vez, me fez precisar voar pra longe. É hora de começar de novo. Hora de ser uma estrangeira no mundo que eu escolhi conquistar e viver.

Califórnia, aí vou eu!