você está lendo Sobre nossas mudanças internas: guardar as flores ou ignorá-las?
comportamento

Foto: Flickr/Cherrypieee

Fui guardando as flores mais lindas que encontrava. Não ousava retirá-las dos galhos, mas pegava as que caíam do alto e pousavam no chão – prontinhas e com a beleza intacta. Tentava preservar a cor e a forma, que se esvaiam aos pouquinhos, mas sempre deixando um tanto do que foram. No meu pensamento, elas sempre seriam belas e isso tinha uma certa importância e significado.

Só que, depois de algum tempo, não consegui mais enxergar o sentido nisso. Por que, mesmo? Então parei.

Foi de um dia para o outro e algo que era tão importante, de repente, tornou-se mais banal do que qualquer outra coisa de meu cotidiano. Eu lá ia ficar abaixando para pegar flores pelo caminho?! Não via finalidade alguma nisso!

A verdade é que cada novo acordar pode despertar sentidos diferentes, que vão agir na forma como vivemos e interpretamos o nosso mundo. Dormir não é tão simples, afinal.

É impressionante refletir sobre como as coisas mudam rápido e como a gente mesmo muda também. Um simples estalar de dedos já nos transforma em alguém um pouquinho diferente, sem explicações, sem precedentes, só por conta do simples passar do tempo.

E aí se torna inevitável a comparação do eu passado com o eu atual: como é que eu sorria com tanta naturalidade por conta de um motivo que, hoje, não me apetece mais?

E então, num dia qualquer, uma nova flor (a mais diferente de todas!) apareceu em meu caminho. E pronto. Voltei ao antigo costume, retornei à velha mania e toda aquela alegria regressou com força total. Nem tente entender. Eu mesma ainda não entendi.

Mas está tudo certo – a gente não tem a obrigação de se entender o tempo inteiro.

O que temos que compreender é que é perfeitamente normal essas oscilações e que a vida será eternamente constituída desses momentos: nossas escolhas são e serão guiadas por nossa persona da vez. E é ela quem, soberanamente, decidirá: devo guardar as flores ou ignorá-las ao passar?