você está lendo Uma garota forte feito aço
Foto: Reprodução/Rachel Keijzer

Foto: Reprodução/Rachel Keijzer

Ele me encarou de frente e disse que eu era uma coisinha frágil.

Sem vergonha. Rindo. Talvez até achando meio fofinho, tirando toda a minha autonomia depois do que havia acontecido e, ao mesmo tempo, colocando o seu ponto final na situação, colando o atestado de diminuição na minha testa. E disfarçando, é claro, como se aquilo ali fosse um elogio.

Criança, nos dê licença que agora os adultos irão conversar sobre coisas sérias.

No caso, a criança era eu. E o adulto, mesmo que nós tivéssemos a mesma idade (para ele não importava), se tratava apenas de alguém que se sentia superior. Por ser homem.

Não nego: interpretei o “coisinha” como algo inofensivo, de início. Com a minha pouca altura, não é de se espantar receber um adjetivo destes, então, não seria uma coisa tão ruim assim, né? Além de que o frágil poderia simbolizar delicadeza. Ora, ser comparado a algo tão leve e sutil quanto uma pena é bom… Certo?

Só que não.

Naquela hora, eu só quis mesmo me enganar. Colocar uma máscara no que aquelas palavras realmente simbolizavam e suavizar o que era somente um “pode deixar, eu tomo conta da situação”.  Só foi depois, sozinha, que fui parar para pensar no real significado de tudo aquilo.

Não era a primeira vez que eu escutava algo do tipo e dava um sorriso amarelo. Uma besteirinha qualquer. Afinal, eles sempre falam da boca para fora…

Era o que eu pensava – até entender melhor toda a situação. Perceber que o que estavam fazendo, na realidade, era pegar as rédeas da minha própria vida por mim e seguir em frente, enquanto eu apenas acompanhava. Com atos, com doutrinas, com extremos, e até mesmo com aquelas simples palavras, que, de simples, não tinham nada. 

Foi por isso que comecei a reparar e contestar até mesmo estas meras letras do meu cotidiano. Por algum lugar eu precisava começar. Porque não, você não vai tomar conta de nada por aqui, querido. 

Cuide aí da sua vida que, na minha, a força vem exclusivamente de mim.

Posso não ser das mais altas, ter mãos pequenas, ser uma manteiga derretida e algumas características piegas romantizadas dos filmes. E isso tudo não diz absolutamente nada sobre a minha capacidade. Sobre a minha independência. Sobre os meus direitos e a minha liberdade.

Se quiser fazer, farei.

Não se engane. Limpe os seus óculos para poder enxergar melhor, eles devem estar embaçados. Já está na hora, não é? E não serei eu que vou limpá-los por você, pode acreditar. Eu só te aviso.

Pois não sou frágil.

Eu sou forte feito aço.