O abraço que cura

14 de novembro de 2015
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Naquele momento, eu não precisava de mais nada. Sentimentos como a mágoa, a tristeza, a decepção e o medo: todos eles não cabem perfeitamente num abraço. Escapam por entre os dedos, afrouxam devagar aquele peso no coração e se vão, aos pouquinhos. Tudo bem, pode não acontecer no exato momento em que os braços se cruzam, mas com certeza é um belo início.

É claro que uma notícia boa ajudaria. Uma frase explicando que não foi nada daquilo que ouvi, que tudo não passava de um engano e que as coisas iriam, sim, dar muito certo. Dormir e acordar mais uma vez, viver aquele dia de um jeito diferente (em que nada de errado cruzaria o nosso cotidiano). Mas a realidade é que a vida real é feita de momentos indesejáveis e todo caminho tem lá os seus desvios. Não dá para fantasiar uma realidade paralela que não existe e ficar pensando em como seria caso as coisas tomassem um rumo diferente.

Para a maioria dos problemas, o que realmente pode funcionar é entender o momento, respeitar a dor e buscar toda a nossa força de vontade, que está lá dentro, tímida, com muita preguiça de sair. Para tanto, não é má ideia encontrar uma solução em todas as forças vindas do carinho silencioso que surge quando outra pessoa nos envolve.

E não parece que o tempo congela por alguns instantes? Começo a ouvir sons que antes não ouvia. Presto atenção na formiga que carrega a folha, lá no chão. O vento parece ter parado de bagunçar os meus cabelos. A luz no fim do túnel pode finalmente ser encontrada por mim. Tem um outro jeito, dá para tentar mais uma vez. Existem outras infinitas chances. Eu consigo ver agora.

Cada pequeno espaço parece se preencher, como um copo, antes vazio. O volume aumenta a cada instante, até sentir transbordar, para juntar os pedaços do que foi quebrado e deixar recomeçar, mais uma vez. Por isso, sempre que as coisas dão errado, eu penso que não preciso nem de um copo d’água, de um café, um conselho longo e demorado ou um olhar de compaixão. Um abraço basta.