você está lendo Não seja essa pessoa

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Um dos maiores desafios da minha adolescência foi entender que as pessoas não são obrigadas a gostar de mim. Na teoria parece óbvio, mas quando você tem quinze anos, nenhuma experiência e uma coleção de complexos, seu objetivo de vida se torna fazer parte de algum grupo para que as pessoas te respeitem independente do resto. O problema é que eu nunca me encaixei perfeitamente em nenhum deles e eu só me dei conta de que tudo bem ser assim quando eu já não estava mais no colégio. Sair de casa aos 17 e escrever minha história tão longe de tudo e todos que eu conhecia me fez enxergar as coisas de uma outra perspectiva.

Em um ambiente completamente novo, o que aquelas pessoas que faziam parte da minha vida até então pensavam sobre mim não fazia mais nenhuma diferença. Não porque eu passei a me sentir superior, mas porque eu vi que no fundo nós somos todos meio iguais. Então por que diabos a minha opinião, que passei 21 anos convivendo com todas as escolhas (e consequências) que fiz na vida, importava menos que a de algumas pessoas que nem me conheciam direito? Tic tac tic tac. Na real o que eles pensavam só me afetava porque no fundo eu acreditava no que diziam. E se eu simplesmente deixasse pra lá?

Levei essa teoria pra minha vida toda. Se você não me conhece direito, provavelmente eu não me importarei com o que você pensa ou diz sobre mim. É bem difícil no começo, porque as pessoas se incomodam ainda mais quando você as ignora, mas com o passar do tempo a sensação que fica é a de liberdade. A opinião dos outros deixa de ser um termômetro da sua própria felicidade. Ah, e isso vale para os dois lados. Minha opinião sobre o outro deixou de ser verdade absoluta. É o meu jeito de enxergá-lo e defendo a ideia de que cada pessoa tem o direito de tirar suas próprias conclusões. Quando me perguntam “o que você acha da fulana?” eu sempre devolvo com “não conheço o suficiente para minha opinião ter alguma importância nessa conversa“. Sabe por que isso é importante? Você não pode cobrar respeito do outro se você em uma outra situação faz exatamente a mesma coisa.

Mas não se iluda. As pessoas não vão gostar de você porque você é boa. Na verdade algumas delas até se irritam com isso. Mas será que realmente é importante entrar pra lista de humanos favoritos de alguém assim? Eu busco sempre manter uma distância segura. Tenho sorte porque meu trabalho me permite escolher grande parte das pessoas que convivo, o que facilita as coisas pra mim, mas mesmo quando isso não é possível crio uma espécie de barreira mental. O universo devolve tudo em dobro e com juros.

Então, lá vai o meu conselho de hoje: Não seja a pessoa que se sente inferior e passa o dia todo diminuindo os outros. Não seja a pessoa que mesmo tendo uma vida boa faz questão de sempre lembrar dos piores momentos. Não seja a pessoa que quer dar opinião até nos assuntos que não entende pra fazer parte de algo. O peixe morre pela boca e o ser humano pela vontade incontrolável de se sentir melhor que as outras pessoas o tempo todo.