você está lendo Maternidade na adolescência – O meu “Depois dos Quinze”

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A cada 10 bebês nascidos no Brasil, 3 são filhos de jovens com idade entre 12 e 19 anos. Essa história de gravidez na adolescência pode soar estranha, mas certamente também soa familiar para muita gente que já passou pela situação ou conhece alguém que a vivenciou, seja um parente, uma amiga, uma vizinha ou uma conhecida.

Na TV, nas revistas e em muitos meios de comunicação esse é um assunto tratado com frequência, mas é estranho ver que muito se fala das meninas grávidas e pouco é mostrado a respeito de como vivem as mães jovens após o parto. Se essa é uma curiosidade, uma dúvida ou mesmo uma coincidência, hoje é dia de dividir uma experiência de vida por aqui e mostrar que assim como em muitas outras situações na vida, é possível superar as dificuldades com leveza e amor.

A história que vocês conhecerão hoje é o meu “Depois dos 15”. Meu nome é Zilah e me tornei mãe aos 15 anos. Hoje tenho 28 e minha filha, a Mariana, 13. As coisas nem sempre foram lindas e cor de rosa, como já é de se esperar que aconteça com a maternidade na adolescência, mas hoje em dia, quando olho para trás vejo que tudo foi aprendizado, construído com muito amor, paciência e apoio da família. Esse último item é sem dúvida o mais essencial de todos e o que não me deixou em momento algum perder as estribeiras ou abandonar meus sonhos (e os estudos!).

  • A NOTÍCIA

Quando descobri que estava grávida do meu primeiro namorado tinha apenas 14 anos e escondi a notícia enquanto pude, até que chegou uma hora em que os enjôos e a sonolência eram tão grandes que a minha mãe começou a desconfiar. Um belo dia tivemos uma conversa sincera e aí veio a notícia: eu estava grávida de quase 4 meses. A primeira coisa que minha mãe me disse (depois de quase cair pra trás com o susto) foi que eu não pararia de estudar e que enquanto eu precisasse, ela me ajudaria. E assim foi.

A notícia foi um susto para todo mundo: família, amigos, colegas da escola e as pessoas com quem eu convivia. Ninguém espera esse tipo de novidade. Por várias vezes tive de enfrentar os olhares atravessados e as rodinhas de fofoca enquanto passava pelo corredor do colégio e isso algumas vezes me incomodava, mas era um incômodo passageiro, pois eu sabia que as pessoas mais importantes (leia-se família) estavam do meu lado.

A gravidez em si acabou sendo uma época muito tranquila, com exceção do dia em que comi dois potes inteiros de bala delícia com recheio de brigadeiro e passei mal bem na noite de Réveillon, à meia noite. Não sei se essa tranquilidade se deveu aos fato que sempre fui uma pessoa que demora a cair na real e quando cai já é tarde para se preocupar ou se por motivos que desconhecidos, a vida se encarrega de levar a gente por esse caminho a fim de evitar sofrimento.

  • FACULDADE E TRABALHO

Durante todos esses 13 anos da Mariana ter a família ao lado fez toda a diferença. Sinceramente não sei como seriam as coisas caso contrário, pois sempre houve apoio e participação, tanto nos momentos felizes e quanto nos mais complicados.

Graças a isso, me formei no Ensino Médio sem nenhum atraso e cursei os quatro anos de faculdade em Publicidade e Propaganda sem problemas. Além disso, não deixei de aproveitar as festas com as amigas durante esse período, mas é claro que não aproveitava tanto quanto as meninas que não tinham filhos. Muitas vezes era preciso abrir mão de uma saída para cuidar da Mari, mas sinto que aproveitei o que pude e vejo que pela frente ainda tenho muito o que aproveitar. Em 2006, com a ajuda dos meus pais viajei para o exterior pela primeira vez, morei dois meses em Londres e apesar de essa ter sido uma experiência incrível, também foi muito difícil, pois sentia muita saudade da Mari e chorava diariamente.

Quando consegui meu primeiro emprego, senti muita falta do tempo livre que tinha para cuidar da pequena, mas pensava: “Essa é a situação normal da grande maioria das mães, então não há nada de errado nisso”. E foi somente aí, quando a Mari já tinha quase 08 anos, pude começar a aprender o que é ter independência.

Por mais que muitas vezes a imaturidade e a dependência financeira dos pais me fizessem sofrer, nunca me senti uma mãe pior só porque era mais nova e menos experiente. Acredito que uma folha não cai de uma árvore sem que esse seja seu destino e na vida tudo acontece porque tem que ser, não há como mudar e não há porque ficar chorando pelo o que já foi ou pelo que poderia ser. Por mais que você tropece e muitas vezes leve um tombo feio, existe sempre a chance de se levantar e seguir em frente de cabeça erguida (mas cuidado para não levantar muito o nariz e perder a humildade), dando sempre o melhor que há em você.

O maior empecilho para uma mãe adolescente é muitas vezes não ter maturidade para tomar algumas decisões sozinha e ter os aprendizados da adolescência em um ritmo diferente. Muita coisa é atropelada e mais pra frente, acaba fazendo falta. A gente se sente muito madura para certas coisas, como administrar horários, tarefas e educar, enquanto sente que no passado faltou um pouco mais de liberdade e de tempo para se conhecer melhor, ficar deitado no quarto ouvindo música, lendo livros e comendo besteira ou passar uma tarde inteira fora de casa com os amigos, fazer aquela viagem ou ir àquela balada. Somado a isso, não ter independência financeira é outro ponto que acaba chateando muitas adolescentes que têm filhos e continuam os estudos.

Hoje é possível ver o quanto maturidade e independência são importantes para nos sentirmos mais confiantes e aí sim, pensarmos em ter uma vida para cuidar além da nossa. Maternidade é responsabilidade e hoje considero que também é independência. E por estas e por outras razões biológicas as quais não domino, a adolescência não é a fase mais adequada para ter filhos e a melhor maneira de prevenir a gravidez e também as DST’s é simplesmente usando preservativos durante as relações sexuais.

A gravidez na adolescência é algo que nem de longe recomendamos a alguém. Mas se por um descuido isso acontece, não podemos ter outra posição que não seja encarar as coisas de frente e arcar com as consequências que qualquer decisão importante traz. No meio disso tudo, se tem uma coisa que aprendi desde os meus 14 anos é que o amor de mãe é puro, verdadeiro e incondicional. E por mais erros que cometamos, há sempre a chance de fazer as coisas se resolverem da melhor forma possível. Hoje tenho uma companheira e amiga, com quase metade da minha idade e o mesmo tamanho, que está sempre ao meu lado me apoiando, me dando broncas, sendo linda e adolescente, como eu era há pouco tempo atrás.

Texto escrito pela leitora Zilah Rodrigues do Toda Coisinha.