você está lendo Os alguéns que eu encontrei

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“Está na hora de você encontrar alguém!”. Essa frase poderia ser facilmente endereçada a mim, em algum almoço de família qualquer. Ou até mesmo vinda de alguma amiga preocupada demais com a minha “eterna solteirice”. Dessa vez, no entanto, ouvi a frase no metrô, entre uma conversa de duas amigas que não deveriam ter mais do que 14 anos. Eu ri, porque se estava na hora daquela menina de 14 anos encontrar alguém, eu nem consigo imaginar o que sua amiga diria para mim, uma garota de 21 que não tem um namorado.

Depois, enquanto eu caminhava para o meu trabalho, comecei a pensar quantas mil vezes já ouvi alguém dizendo que eu deveria encontrar alguém. Provavelmente, ouvi essa ladainha aos 14, ou até antes. Mais tarde, então, a frase deve ter sido repetida pelo menos um milhão de vezes. Já fiz o tipo que ligava, já fiz o estilo que não estava nem aí. Dependendo do meu momento, doía ou só me fazia rir. Mas uma coisa é verdade: a gente sofre uma pressão desesperadora para namorar.

Eu já encontrei alguém. Eu já achei que era o cara certo, já achei que era o cara errado e decidi apostar mesmo assim, já achei que era amor e não era – nem da minha parte. Eu esbarrei com grandes amigos, grandes amores platônicos e casinhos que foram sendo escritos na minha história, que depois descobri que nem tinham tanta importância. Eu encontrei “alguéns”. O menino que era meu melhor amigo e foi embora; aquele que se apaixonou por mim, mas que eu não me apaixonei de volta; o cara que apareceu e me fez sentir coisas que eu não deveria sentir por ele. E aí, depois de todos esses alguéns, eu descobri que eu simplesmente estava procurando o alguém errado.

Não que eu queira dizer que todo mundo deva adotar a solteirice como modelo perfeito de vida. Quero dizer totalmente o contrário: modelos perfeitos de vida não existem. Não é só porque você namora e é feliz com isso que sua amiga solteira só será feliz namorando também. Namorar é legal, é ok e pode fazer crescermos muito. Aprender a lidar com o outro é uma das coisas mais bacanas da vida. Mas ficar sozinho, se olhar no espelho sem se desesperar e aprender a lidar com si mesmo, para mim pelo menos, é o verdadeiro sinal de que a maturidade está chegando.

Se eu pudesse voltar naquele vagão do metrô, talvez eu dissesse para aquelas meninas que elas realmente deveriam lutar para encontrar alguém. Deveriam tentar descobrir do que esse alguém gosta, o que esse alguém quer fazer, aonde esse alguém quer chegar. Eu diria para elas, talvez, que quando elas se conhecessem de verdade, as coisas seriam bem mais fáceis e leves. Talvez, se eu voltasse no tempo, eu dissesse simplesmente: “É, está na hora de encontrar alguém…e esse alguém é você mesmo.” Porque quando a gente se encontra, os alguéns que esbarram no nosso caminho se tornam uns baitas de uns sortudos. E a gente tem uma sorte enorme também.