você está lendo O dia em que eu me apaixonei pela liberdade

Na aula de história me ensinaram o significado da palavra liberdade. Talvez até tenha caído em alguma prova do ensino fundamental. Anos depois, durante as aulas semanais de filosofia, um professor me contou o que Descartes, Leibniz e Karl Marx pensavam a respeito. Quase todos os meus amigos achavam um saco tanta teoria, e confesso, às vezes, eu também.

Algumas coisas que nos contam na escola só começam a fazer sentido quando damos o primeiro passo em direção ao mundo dos adultos. Essa perspectiva mais real da vida, que a gente tem principalmente quando não pode mais passar os maiores problemas para os nossos pais, é a primeira batalha da guerra interna que se inicia dentro da gente e, levando em consideração os papos que tenho com minha vó, dura nada mais nada menos que toda a nossa existência. Vocês vão me achar louca por fazer essa analogia e comparar grandes conflitos da história com os pequenos aborrecimentos do cotidiano, mas sabe o que eu andei reparando? Tudo gira em torno da mesma coisa: a independência. Seja de uma nação, uma família ou o pobre coitado do nosso coração.

Vishhhh!

Confesso que as coisas ainda são meio confusas para mim. É que não faz tanto tempo que eu sai de casa, né? Digamos que eu ainda esteja aprendendo a lidar com esse silêncio todo e a rotina de trabalho (graças a Deus) não tenha me deixado pensar naquelas coisas ruins que normalmente fazem a gente olhar pra trás. Tenho a sorte de ter uma família incrível que sempre me apoiou e talvez, também de ter nascido tão longe daqui, no interior e ainda em outro estado. Como assim? É que a minha segunda opção nunca teve a menor chance com essa cidade.

São Paulo é o cenário dos sonhos de qualquer garota que tenha grandes planos. Só que quando você muda pra cá, percebe que a vida longe da sua antiga realidade não é exatamente o que você tinha imaginado. Quero dizer, as festas incríveis acontecem, os shows internacionais também, mas isso não quer dizer que você vai (querer) fazer parte disso, sabe? Às vezes falta grana, às vezes falta é vontade de sair de casa depois de uma semana exaustiva de estágio, faculdade, trabalho, etc. As pessoas aqui estão sempre muito ocupadas e eu estou me colocando nesse grupo. Tive conversas sobre esse assunto com pessoas de diferentes idades e realidades, e adivinhem? Acontece com todo mundo.

Todos nós estamos olhando para esse mesmo pôr-do sol laranja no final do dia enquanto respiramos o ar poluído, para quem não sabe, motivo da vista ser tão bonita assim. Estamos escutando nossas músicas preferidas no fone de ouvido com o pensamento longe enquanto não chega a estação certa do metrô ou o semáforo abre. Estamos reclamando mentalmente do trânsito e desejando que amanhã faça menos frio que hoje.

E você achava que era totalmente diferente das pessoas que atravessam a rua diariamente com você, né? Risos. Eu também. Aí num belo dia, durante uma conversa sem tanta pretensão, descobri que todos nós parecemos muito por dentro e que o que nos diferencia é a maneira que mostramos isso para o mundo. Somos livres para mostrar o que quisermos e como quisermos. Essa liberdade que as outras gerações tanto lutaram é linda e é um dos motivos por eu continuar amando viver aqui.

Independência é o poder de escolha, meus caros. Ter a liberdade de ir e vir, escrever e cantar, levando em consideração nossas próprias vontades. Às vezes isso parece muito com solidão, eu sei, mas gosto de pensar que tem mais a ver com honestidade: estar onde a gente realmente quer estar.