você está lendo Os detalhes que guardei de você

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Seu olho esquerdo continua ficando menor do que o direito quando você acorda? Seu sorriso continua um pouco torto, daquele jeito fofo que só você tinha? E sua voz? Ainda fica rouca sempre que você vai admitir para alguém que está amando? Aliás, me diga isso, sem meias palavras, sem medo de me machucar: houve amor depois de mim? Não me entenda mal. É só que eu continuo perdida entre o que eu conseguia antes e depois de nós dois. E amar é uma dessas coisas que eu começo a achar que nunca mais vou conseguir fazer. Acho que a última pessoa que amei foi e vai ser sempre você.

Eu continuo digitando seu número toda vez que quero contar uma boa notícia a alguém. Permaneço querendo ouvir sua voz sussurrando no meu ouvido que tudo vai ficar bem depois de um dia exaustivo. Eu ainda sonho com o som da sua risada toda vez que conto uma piada sem graça. E sinto falta das vezes que você esquecia meu aniversário e comprava mil presentes para se desculpar. Eu sinto saudades do jeito que você ficava emburrado e não respondia as minhas perguntas. E da sua mania irritante de deixar a tampa da privada levantada.

Eu morro um pouco por não ouvir mais suas reclamações no trânsito. Ou seus pedidos de perdão quando você finalmente admitia que estava errado. Dói não te escutar mais cantando aquelas músicas chatas, não ter ver mais assistindo aos seus filmes-cabeça ou lendo seus livros de sucesso empresarial. Eu sinto falta do que você diria quando soubesse que eu briguei com a minha mãe pela milésima vez. E da lição de moral que me daria quando eu contasse que larguei meu sonho por medo.

Eu sofro pelo cheiro de bolo queimado que nunca mais pude sentir. Pelos jantares que você não arruinou tentando uma receita nova. Pelos pratos que você não quebrou enquanto lavava a louça. Eu sofro por todas as vezes que você não tentou – nem vai mais tentar – ser chefe de cozinha e me usar como cobaia. Para ser mais clara, eu sofro por tudo o que foi e não é mais e por tudo o que ainda poderia ter sido. Tanta coisa. Eu ainda sofro por você.

Mas e aí? Você já descobriu aonde foi que a gente errou? Eu ainda me questiono, todas as manhãs, em que lugar a gente não deu certo. Ainda quebro a cabeça tentando encontrar nossas falhas. Fico aqui, como uma doida, querendo saber: se eu te amava e você me amava, por que nosso final não foi feliz como todos os outros? No fundo, o que eu queria saber era apenas por que a gente teve que ter um final. Uma merda de final.