você está lendo Pelo direito de não gostar de algo

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Acho ótimo como a humanidade está sempre pronta pra defender algo, ao mesmo tempo em que a ataca. Por exemplo: se eu faço um vídeo dizendo que as pessoas devem respeitar a opinião dos outros e aceitar as minorias, todo mundo concorda e acha lindo. Mas se eu admito em público que não gosto de Star Wars, de séries de TV ou de crianças, aí é um absurdo! COMO ASSIM???!?!?!1!?onze??!

Acho que primordialmente o problema está na compreensão da expressão “não gostar”. Por exemplo, se eu “não gosto” de usar bermuda, não significa que eu quero que todos que usam morram. Muito menos que os estilistas e marcas que as fabricam tenham câncer. No caso de crianças, que é o que as pessoas mais acham absurdo, se eu “não gosto” de crianças, só significa que quero uma certa distância delas. Não que eu vá chegar oferecendo pirulitos envenenados na rua!

Mas aí vem outro problema: tolerar as diferenças. Se você diz que não gosta de alguma comida, a pessoa já manda um “ah, mas o que a minha mãe faz você vai adorar!”. Se você não gosta de algum filme, “é porque não viu os extras”. Se, como eu, não gosta de séries, “é porque você ainda não viu a série certa!” — Se você tiver cinco minutos pra eu te explicar por que eu não gosto de séries, beleza. Mas mesmo depois disso, você ainda vai dizer que estou errada.

Agora serei ousada pra dizer: sair disso pra dizer que os homossexuais e ateus estão errados é apenas um pulo. A gente fala tanto por aí que quer um mundo mais justo, mais humano… e lá estamos nós dizendo que a pessoa que não curte o Mestre Yoda está errada. É aquela velha história sobre o machismo (e não estou nem aí se me chamarem de feminista chata nos comentários, porque sei que não sou): não adianta ter a lei Maria da Penha se na televisão temos um humor que degrada as mulheres. Mesmo que sejam só as mais feias, as promíscuas, as desconhecidas. É a mensagem do “isso aqui tudo bem, aquilo lá é outra coisa”. Não é!

Obviamente ser um mega-fã de algo não deve te tornar um nazista (até onde eu sei…), mas pra que tanta dificuldade em aceitar que aquilo que você ama não faz nem cócegas nos outros? É uma coisa especial pra você, mantenha esse tesourinho. E lembre-se de todas as vezes em que você falou que não gostava de algo e alguém veio tentar te convencer do contrário. É muito chato. Sério. E o pior é que nem afeta a vida da outra pessoa!!! (Ao contrário de, vejam só!, os nazistas! Que, por não gostarem de judeus, saíram matando todos os que encontraram)

Eu não assistir Star Wars não te impede de ter bonequinhos Storm Troopers no seu quarto. Eu não gostar de séries não desabilita seus canais favoritos na TV à cabo. E muito menos eu desgostar de crianças vai te tornar infértil e todos a sua volta. Sigo a minha vida aqui, e você segue a sua aí. E nos encontramos no meio pra, quem sabe, assistir a outro filme?