você está lendo A maior dificuldade em sair de casa é voltar

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Aproveitando o ~aniversário de São Paulo da Bruna (êêê, parabéns!), resolvi fazer um texto sobre algo parecido… Nem todos sabem, mas ano passado, lá por Abril, eu também me mudei pra capital paulista, mas menos de um ano depois, estou de volta à Curitiba.

O que acontece quando você vai embora e depois resolve voltar? Digo a todos: você encontra tudo absolutamente diferente. Depois da jornada completa, a casa já não parece mais tão familiar.

A CIDADE

Por causa da Copa chegando, tudo parece um canteiro de obras. Perto do meu prédio, tem vários outros pipocando e, por consequência, calçadas quebradas, caçambas e barulho. Ai, o barulho!!! Que inferno pra gravar vídeo! Mas, pensando bem, lá em São Paulo eu morava ao lado de uma avenida. Toda vez que vinha passar um final de semana aqui, estranhava um pouco o silêncio (isso porque aqui em Curitiba não moro no meio do mato! Calculem a barulheira de SP).

Restaurantes fechando cedo, não abrindo em feriados… Como assim não tem um restaurante de comida russa??? Me explica um mundo onde não tem delivery 24h de comida!!! Curitiba, você é um atraso! Meu Deus!!! Se bem que aqui, quando eu como bem, chego a pagar a metade do que quando eu comia mais ou menos em São Paulo. Apesar de as coisas estarem ligeiramente mais caras de como eu lembrava, estão infinitamente mais em conta do que lá.

OS AMIGOS

Meus amigos mais próximos sempre foram os que eu conheci na infância, nos primeiros anos na escola. Moramos próximos e estamos sempre um na casa do outro. Mas ultimamente, os papos têm ficado menos interessantes, as brincadeiras perderam a graça e até nossos encontros mais esporádicos. Quando eu morava longe, morria de saudades deles, de sair com eles, de conversar. Eu voltava e eles sempre tinham piadas internas novas, histórias que viveram juntos pra me contar… E eu voltava pra maior cidade do país, me sentindo a pessoa mais sozinha do mundo no meu apartamento. Quando eu passava um final de semana sem sair de casa, sem ver ninguém, ficava só trabalhando, pra esquecer a tristeza. Nunca gostei de ficar sozinha, muito menos em casa.

Agora, eu mesma tenho procurado a minha própria companhia. Tem alguns finais de semana onde eu tenho convites pra sair e encontrar pessoas, mas não tenho vontade. É claro que quando não tenho convite nenhum, bate aquela deprê já conhecida. Mas quando me lembro que meus assuntos favoritos não são mais os mesmos dos meus melhores amigos, fico pensando se eu é que estou errada.

EU

Antes de me mudar, eu tinha uma visão bem clara de como queria viver. Meus planos eram de ficar lá por muito tempo, fazer mil amigos, tocar novos projetos e nunca mais me sentir deslocada, seja em aspectos emocionais ou profissionais. Entretanto, assim que cheguei em São Paulo as coisas mudaram de cara: não dava pra morar sozinha, tinha que dividir apê. Não podia ter minhas gatinhas, porque uma das roommates não gostava de gato. No escritório, todo mundo era muito quieto e almocei mais de 90% dos dias que passei lá, sozinha. No final de semana, chamava as pessoas pra sair, mas todo mundo desistia na última hora. Acabei focando no meu TCC, que eu fazia naquela época.

Achava que iria cozinhar todos os dias, o que se tornou impossível. Enquanto trabalhava, pela falta de tempo. Depois, enquanto procurava emprego, eu não tinha vontade de sair pra comprar ingredientes. Só ia no mercado quando não restavam mais nem biscoitos nem miojo. A única coisa que me tirava de casa mesmo era o ballet. Eu tinha certeza de que valia a pena ir, a aula sempre me fazia bem.

Agora em Curitiba, eu vejo tudo com um prisma provisório. Meu período em São Paulo, que eu achava que seria indubitavelmente perfeito, não durou pra sempre. Trouxe coisas boas, mas também coisas ruins. Antes, eu achava que minha incompletude se dava ao fato de não me sentir muito bem em Curitiba, deslocada das pessoas. Agora, vejo que vai ser assim em todo lugar. Voltei pra cá achando as pessoas mais estranhas, o clima mais hostil e o trânsito mais irritante.

Tenho que aprender a lidar com todas essas modificações, não dá pra simplesmente passar vários meses longe e depois querer retomar de onde parei. A vida seguiu e eu não estive aqui pra acompanhar. Estava ocupada demais com as minhas próprias mudanças, em outro ritmo, outro lugar.

Não sei bem onde isso tudo vai chegar, mas toda vez que algo me aborrece aqui, eu penso: afinal, quem mudou? Foi a cidade, meus amigos, ou eu? Ou tudo junto?