Um lugar chamado São Paulo

25 de janeiro de 2013
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No começo da semana tentei marcar uma consulta médica para sexta. A mocinha, por telefone, avisou que não seria possível já que dia 25 é feriado, aniversário de São Paulo. Fiquei alguns segundos em silêncio e marquei para a próxima quarta (não me deixem esquecer). Desliguei o telefone e lembrei dessa mesma data no ano passado. Eu ainda morava em Leopoldina, mas minhas malas já estavam prontas e só faltava a tão esperada festa de formatura do CEFET para a mudança acontecer. Lembro de organizar tudo em caixas e chorar ao ver a Zooey perceber a situação. Com alguns meses de vida, ela desenvolveu a incrível capacidade de entender que as malas significam dias longe da mamãe. Daquela vez eram várias delas. Muito mais que dias.

Todo mundo diz que eu fui corajosa. Que mudar de cidade, sozinha, aos 17 anos não é uma tarefa tão simples. E de fato não foi. Mas quando tomei a decisão, no começo de 2011, não lembro de ficar imaginando como seria. Expectativas demais estragam qualquer sonho. Fiz um acordo comigo mesma e prometi que esse assunto só seria pauta dos meus pensamentos de travesseiro quando fosse a hora. Enquanto o tempo passava, juntei o máximo grana possível e convenci meus pais.

São Paulo, para mim era cinza. Assim como o Rio é laranja. Desde pequena ligo cidades a cores e da janela do ônibus, naquele primeiro dia, percebi que eu não estava tão errada assim. A cidade que nunca dorme, em uma madrugada qualquer na feirinha da Brás, estava acordando. Tudo era novo. A quantidade de orientais. O trânsito. Ter que usar o elevador. Estar sozinha na hora da novela das 9. Droga. Deixei uma lágrima escorrer enquanto escrevia isso. A falta que senti dos meus pais, amigos e na época, namorado, me fazia parecer uma cachoeira ambulante. Tive que escrever uns vinte textos para entender que aquilo era uma fase e que logo ia passar. Ok. Não passou, mas aprendi a ocupar minha mente, conversar com o cachorrinho Schnauzer da vizinha e simplesmente parar de assistir novela sozinha.

Desde então, foram tantas primeiras vezes. Por exemplo, minha primeira balada gay. Ver os caras se beijando e flertando com meus amigos foi algo completamente inesperado. Na minha cidade isso não é tão comum. Não sou nem um pouco preconceituosa, mas no primeiro momento, achei tudo aquilo muito curioso. Com duas semanas me acostumei e até comecei a pensar que todo garoto dessa cidade era homosexual. Felizmente me provaram que não. Conheci vários gays e a cada dia tenho mais certeza de que eles são os amigos melhores e mais divertidos que eu poderia ter.

Não foi a primeira vez que andei de avião, mas foi a primeira vez que embarquei sozinha. Com uma mala enorme (graças a Deus aprendi e ser mais prática) e um estado desconhecido como destino. Em abril, lá estava eu indo para o Desencontro e me aproximando da Lia, conhecendo o João e aprendendo a levar o blog a sério, como um negócio mesmo. Eu era tão tímida. Ficava imaginando vinte coisas para dizer e só conseguia manter diálogos monossilábicos com as pessoas. Ainda bem que me deram uma segunda chance. Ainda bem que eu dei outra chance para as pessoas também.

Foram tantos lugares e coisas que me mostraram que existem infinitos jeitos de ser feliz. Caminhar pela Paulista logo depois de comprar a primeira Capricho com minha coluna, o parque Ibirapuera e o meu primeiro tombo feio de patins (dói até hoje), o Paris 6 e o meu primeiro jantar romântico (o Lucas da banda Fresno estava na mesa ao lado), a decoração de Natal do El Dorado que me fez ligar para minha mãe, frozen yogurt com morango e farofa crocante,  o Salão do Proença que me fez voltar a amar meu cabelo, o shopping Paulista e o lançamento do meu livro e agora, ficar a tarde em casa sozinha ouvindo engenheiros e escrevendo este texto.

Parabéns São Paulo. E obrigada por me receber e entender desde sempre.