Como é triste o fim

18 de outubro de 2012
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Eu odiava cheiro de cigarro e você sabia disso. Aquela fumaça me causava crises alérgicas e você havia deixado no canto da mesa ao lado da cama só para me incomodar. Eu sei. Sei também que fazia frio lá fora. Você ligou a música, sentou na cama e me olhou. Eu, nitidamente sem graça, deitei no seu colo e esperei que tomasse alguma atitude. Demorou, mas você tirou minha blusa de frio e desengasgou algumas palavras. Você falava de medo. Falava de paz. E acreditava que a felicidade era algo obrigatório. Nem adiantou dizer que eu estaria ao seu lado, porque afinal eu nem sabia se era isso mesmo que queria.

Vez em quando, você tragava o cigarro, olhava em meus olhos e depois olhava aquela lua minúscula que fazia sombra na janela. Nem ela estava bonita hoje, nem você. Você me ofereceu o cigarro, eu te pedi um abraço. Retribui com um beijo, você com um pouco de fumaça no ar. Nosso amor chegava ao fim e era inútil qualquer tentativa. Eu sabia que não tinha mais jeito.

Às vezes, meu amor, tudo que a gente tem que fazer é simplesmente deixa ir, se esvaziar. Não era hora de me esvaziar de você, mas você estava se esvaziando de nós dois. Eu sentia isso. E exatamente por sentir tanto que eu preferiria sair do seu caminho. Eu já arquitetava o plano. Me doía, mas eu sabia que eu era seu problema. E que precisava sair do caminho. Talvez te amar de longe não fosse tão ruim assim, sabe? Eu te deixaria com uma lágrima no olho, mas logo te veria feliz reconstruindo seus planos, sua vida. Era melhor. Afinal, você me ensinava que quando é amor mesmo, a gente não se importa se a pessoa está longe ou perto. A gente se importa se ela está feliz. Paixão odeia distância, quer se fazer dona. Amor camufla o sentimento e deixa ir. Como me dói dizer isso, mas eu precisava te deixar, meu amor. Eu precisava.

Aquele encontro tinha um ar de despedida e eu sei que você também sentia isso. Quando levantou para buscar a água, eu fui até a gaveta, peguei minhas coisas e as coloquei na bolsa. Voltei para a cama e vesti a blusa de frio. Acho que daqui a um tempo dará falta do seu boné amarelo, você sabe que era o meu favorito e eu tive que levá-lo comigo. Depois que voltou, eu respirei fundo, olhei em seus olhos pela última vez e inventei qualquer compromisso. Disse que iria embora e fechei a porta daquele apartamento sem olhar para trás, certa de que era minha última vez ali.

Eu deixava uma vida, deixava parte de mim. Eu precisava viver e para isso, eu precisava te deixar. Deixar a minha vida com você para trás. Como é triste o fim, meu amor. Mas como me alivia saber que outra, em breve, colocará sorrisos em seu rosto. Sabe, acho que isso não é egoísmo. Não sei o que eu sinto por você, mas acho que é amor. Bem sincero amor.