Tentativa em vão

04 de setembro de 2011
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Eu me esforçava para acreditar em suas promessas do mesmo jeito que você se esforçava para fazer com que eu acreditasse em cada palavra que você dizia. Eu aprendi a te ler entre as entrelinhas, se você quer mesmo saber. Assim, passei a entender seus olhos e sentir seu bruto julgamento equivocado que você insistia em fazer. E na pior das hipóteses, de mim.

Eu saía por aquela porta certa de que todas às vezes você viria atrás de mim. E veja só como você é tão previsível: você ia. Diverti-me por milhares de vezes com minhas amigas às suas custas, porque você era parte do assunto principal no qual adorávamos nos deliciar com palavras rudes e ao mesmo tempo cheias de desejo sobre sua pessoa. Patético era saber que você inutilmente tentava me fazer crer nas suas palavras que inversamente correspondiam com suas atitudes.

Apesar de tudo isso, eu nunca entendi porque eu havia me apaixonado. Essa paixão que me maltratava e me fazia derramar uma lágrima todos os dias em que me lembrava o que estava fazendo com nós dois. Eu nunca poderia confiar em você e depois de tudo, pouco confiava em mim também. Eu sabia que lá pelas tantas nós estaríamos abraçados como quem esquece que existe um mundo indo contra nossas vontades. Eu sabia que enfrentaríamos olhares maldosos e que eu mais uma vez acharia simplesmente que te enganei.

Pouco sei da vida, realmente. Eu nunca consegui te enganar e, no máximo, me enganei todo esse tempo. Eu voltava para casa como quem se sente mal por ter engolido um x-burguer repleto de gordura, mas que mesmo assim sabia o quanto tinha sido bom. Depois de um tempo, você bem sabe que a sua ficha foi caindo. Deveriam ter sido meus esses relapsos de lucidez que você tinha, onde repetia sempre: “você sabe que isso nunca vai dar certo”. Eu sempre soube que nunca mudaria e que de fato nunca daria certo mesmo. Sempre soube e nunca entendi. Quer dizer, entendo agora.

Pode procurar no meu celular. Não tenho mais seu número e me esforço todos os dias para esquecer o que havia decorado: nossas datas, nossas músicas, nossos momentos. Entendi também porque nunca poderíamos dar certo: Eu fazia parte de uma porção de acontecimentos bons na sua vida, mas eu era feito esses anjos que vem, mas que tem que ir embora rapidamente. E eu fui. Fui porque você quis e porque me permiti. Você não faz mais parte das minhas conversas maliciosas que eu mantinha com minhas amigas. Tentativa em vão, tentar manter você por perto. No máximo, você agora faz parte de mais um pedaço de papel que carrega uma porção de lembranças – como essa carta que termino nesse exato momento.