Paradoxo

22 de agosto de 2011
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Ei você. Sim, você mesmo. Eu sei que você anda em busca de algo que explique o que se passa aí dentro. Uma nova frase clichê que consiga traduzir seus sentimentos submersos em incertezas. Uma mapa de palavras que te guie até a luz do fim do túnel e faça ele enxergar onde você só consegue sentir. Mas hoje eu quero falar sobre um assunto diferente. Sobre um quase problema. Uma epidemia.

Você reparou? As pessoas estão oficialmente perdendo a graça. Elas estão ficando cada vez mais solitárias, entediantes e egocêntricas. Sabe por que? Todo mundo já sabe demais de todo mundo. Quer ver? Responda rápido: Quantas pessoas sabem o que você pensou ou sentiu hoje de manhã? Agora, quantas pessoas você abraçou e apertou bem forte?

É tanta informação. Tanta coisa que talvez nunca devesse nem ter sido escrita. Posso até estar errada, mas ainda sou daquelas que acredita que algumas coisas devem ser guardadas a sete chaves. Não como segredos, porque esses sim, têm motivos para um dia serem revelados, mas como um quebra cabeça do que realmente somos e acreditamos. Estão entregando, na ordem, todas as peças. Deus do céu, eu me pergunto, pra onde foi a graça de tentar descobrir e montar tudo parte por parte? Sem isso, tudo perde o real sentido.

Quando todo mundo sabe a resposta, perguntar não tem mais a menor graça.

Lembro que quando eu era mais nova ficava olhando de longe aquele menino mais velho da sala ao lado. Ele tinha um sorriso encantador e um cheiro de desodorante de chocolate. Eu não sabia muita coisa além do seu nome, mas eu ficava sempre o observando só pra não perder nenhum detalhe. Já faz bastante tempo, mas quando penso no assunto, ainda sinto aquela sensação fria dentro do peito que me fez por mais de ano, escrever textos sobre ele.
O tempo passou e os meus textos ficaram na gaveta. Ele se formou bem antes e se mudou.

Pouco tempo atrás pensei em procurá-lo. Mas, não levei a ideia a diante porque esqueci quando acordei no outro dia. Mas, semana passada, perdida em uma rede social qualquer, achei o perfil dele. Continuava com o mesmo sorriso de sempre. Li por alguns minutos, em algumas páginas, um rápido resumo sobre os últimos anos de sua vida. Bebidas, mulheres, tatuagens e nenhum objetivo certo.

Fiquei pensando no final de semana se eu realmente gostaria de ter descoberto tudo isso dele. E se eu tivesse descoberto antes, seria que me apaixonaria ao ponto de escrever um texto como esse?