Diga não ao Bullying!

27 de maio de 2011
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Eu sofri bullying por muito tempo.  Mas, na minha época, esse crime era considerado uma simples brincadeira de mau gosto, comum entre a maioria os alunos.

Estudei os primeiros anos da minha vida em uma pequena escola que fica no meu bairro. Naquela época, a classe do infantil só tinha cinco ou seis alunos. Na primeira série, quando me mudei para uma escola maior, entrei em uma turma já formada. Vocês sabem como funciona né? Com os grupinhos já feitos, pra quem é tímido, é quase impossível se enturmar.

Além de ser “gordinha”, eu usava óculos – tenho estrabismo astigmatismo e hipermetropia, e tinha bastante dificuldade em me relacionar e fazer novas amizades.  Lembro que uma vez, cheguei em casa chorando muito e reclamando com a minha mãe o fato de eu não ter amigos.

O tempo foi passando, e a cada ano e mudança de turma, eu ia tentando me adaptar um pouco mais aos meus colegas de classe.  Os apelidos como “quatro olhos” e “emo” começaram a surgir, e junto com eles as brincadeiras de péssimo gosto.

Por exemplo, uma vez, um garoto da minha sala colocou uma chave (dessas de casa mesmo) dentro da minha calça, no meu “cofrinho”. O pior é que ele fez isso bem na hora de uma prova que eu precisava de bastante ponto, e isso acabou me deixando super desconcertada. Desesperada, comecei a chorar e pedi para a professora para ir ao banheiro. Contei a situação, e claro, ela brigou com ele na frente de toda a turma. O que vamos combinar, só piorou as coisas, já que depois disso todo mundo ficou sabendo do acontecido.

Chegando em casa, contei a história pra minha mãe, e é claro, ela foi e ligou para vó do garoto (mamãe barraqueira, beijos) . Resultado? A avó do menino brigou muito com ele, e depois de um tempo, ele amadureceu e se tornou um do meus melhores amigos!

No primeiro ano, mudei de escola novamente e fui para o cefet. Lá, tive a chance de me reinventar, já que todos os alunos eram desconhecidos e de cidades diferentes.  Apesar de uma recepção nada calorosa, conheci pessoas incríveis e perdi grande parte da minha timidez.

Nesse mesmo ano, completei quinze anos e fiz uma pequena festa (por problemas de saúde familiar, a festa foi bem pequena e só para íntimos mesmo).   Convidei apenas quinze pessoas da minha sala, com isso, alguns ficaram de fora. Um desses garotos não soube lidar com isso, e acabou levando para o lado pessoal. Colocando sem motivo algum, meu nome na sua lista negra. Coisa que eu só fui descobrir muito depois.

Na época, participei da batalha de looks que acontecia no site da CAPRICHO. E um dos meus looks, estava entre os primeiros colocados. Entre um comentário elogiando e outro, recebi um MEGA comentário super ofensivo, de alguém que me conhecia, mas com nome falso, de uma garota até.

Ok. Não dei tanta apenas fiquei curiosa para saber quem era aquela pessoa que me odiava tanto. E depois me contaram, que quem escreveu aquele comentário, foi esse tal garoto.

Alguns meses depois, já no final do ano, a minha classe combinou de montar um amigo oculto. Participei como sempre. No entanto, depois dos nomes já sorteados, resolveram mudar para inimigo oculto. O que já não me agradou tanto, mas como já estava tudo organizado, resolvi participar mesmo assim. Para comemorar o fim do ano, a sala se reuniu em um churrasco na casa de uma das garotas da minha sala. Até aí tudo bem.

Chegando lá, o pessoal logo começou a beber muito (eu não bebo assim). E antes mesmo do meio do churrasco, 99% das pessoas lá estavam descontroladas. Ok. Continuei no meu canto  com minha amiga Ana Júlia, e na época amigo, Alisson.

Quando anunciaram a hora do inimigo oculto, fizeram um circulo e colocaram uma cadeira no centro. E assim foi, um por um, até chegar na pessoa que me tirou. Adivinha quem foi? Esse garoto que se chateou por não receber o convite da minha festa.

No meio de todo mundo, ele já bêbado, começou a dizer coisas horríveis ao meu respeito. E como o pessoal estava bêbado, acharam a maior graça de tudo isso. Quando mais ele falava, mais as pessoas riam.  Na hora, foi desesperador. Eu me vi  praticamente sozinha, mesmo em meio a todos os meus amigos. Ninguém percebia o quanto aquilo estava me machucando. Só achavam graça.

Ele levou vários objetos, e através deles, me humilhou na frente de todo mundo. Por exemplo, ele levou um alicate e disse que o meu dente era horrível, torto e pra frente. E minha boca mais parecia a de cavalo (minha arcada dentária era um pouco para frente).

Isso soa muito infantil e idiota, mas na hora, essas palavras fizeram com que eu me sentisse a pessoa mais infeliz desse mundo.

E a pior parte:  Tudo aquilo foi planejado, e muita gente sabia do que ia acontecer. Tanto, que levaram até câmera filmadora para registrar o feito.

(OBS: Tenho orgulho de dizer, que a única pessoa que percebeu a situação, foi a minha querida amiga Ana Júlia, que infelizmente já não estuda comigo, mas é uma das pessoas mais importantes da minha vida.)

Aquela noite foi uma das piores da minha vida. Não chorei na hora, por orgulho, na frente dele, mas chorei desesperadamente por várias horas, sozinha, no meu quarto.
Minha mãe ficou furiosa, e queria ir logo ligando para a mãe do garoto e comunicando o acontecido para o diretor do colégio. Mas, preferi esperar a vida mesmo mostrar para o idiota como as coisas funcionam.

Resultado? Ele foi reprovado e não conseguiu acompanhar a turma.

E eu? Superei tudo que aconteceu e ainda aprendi bastante com tudo que aconteceu. Fiquei mais forte e capaz de enfrentar esse tipo de situação. Que no meio que trabalho, a internet, costuma acontecer com frequência.

Hoje vejo tudo isso de uma maneira diferente, mas reconheço que superar não é uma tarefa fácil. E que depende muitas das vezes, de nós mesmo. De simplesmente não se importar. Não tem tanta graça quando não irrita, quando não incomoda.

Acredito que o problema é que muitos jovens não conseguem aceitar o diferente. Seja pela opção sexual, pelo tipo físico ou maneira de levar a vida. O que é lamentável, já que hoje, temos muito mais informações do que por exemplo, na minha época.

Muita gente prática bullying sem saber. Por isso, vale sempre pensar duas ou três vezes antes de dizer ou escrever (ciber bullying) alguma coisa. Uma simples palavra pode machucar mais do que muitas atitudes.  E as cicatrizes ficam pra sempre na nossa vida. Nem todo mundo consegue superar (Já tivemos várias provas disso né?) isso.

Acreditem, não é tão engraçado quando a “brincadeira” é sobre você.

(Ps: Contei um pouco mais sobre o assunto em uma matéria para o site da CAPRICHO, vejam aqui)