Amorfílica

09 de maio de 2011
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É nessas horas de raiva suprema, de ferida que não sara, casquinhas que se abrem em trechos sacolejantes, um passo e um ladrilho que balança, nunca firme, que não termina, e a vontade de escrever me toma antes de qualquer necessidade fisiológica, física ou peculiar. Falar já se tornou cansativo, e ouvir os mesmos conselhos, os avisos de “eu te avisei” é a única coisa que abomino, e não tenho necessidade, agora. Acontece que a principal pessoa a enxergar, sentir, capaz de proteger as ilusões, essas tentativas que mesmo intuitivamente sabendo furadas, acreditamos contaminadas – cheias de romances com finais felizes – somos nós; depois de percalços cheios de pedregulhos e penar como que com uma cruz nas costas, arranhando qualquer perdão voluntarioso, pesando enquanto se tenta caminhar rumo à solidez a gente acaba se dando conta de que tudo isso que sucedeu, esse tempo todo de chances, desculpas aceitas, esfarrapadas e pela metade, foram pura enganação. Iludir à si mesmo, enfeitar o real com rosa, purpurina e fita mimosa. Não notando que tudo degringola, e se deforma por conta dessa visão que não condiz à realidade.

Uma cega que exita em ver, apalpar a realidade e esquecer na estante os contos dos Irmãos Grimm ou os filmes da Disney. E que Deus propaga o perdão, a aceitação do erro, essas teorias de que rancor faz mal pro coração, na fisiologia humana. Sendo que quase todas as vezes em que disse sim, guiada pelo sentimento e a cabeça sendo esquecida, intocada, poucas foram reaproveitadas. Raras, com felizes para sempre. E cansa ser assim ingênua, fervorosa. Vontade de desaprender a digitar, ler, ou ouvir. Lembrar dos conselhos velhos de papai que homem gosta de sofrer, não presta e nem merece ser ouvido. Pisou na bola, é contra-ataque.

Uma fadiga de ser eternamente depositada de litros de uma compaixão imperecível, um estigma de bondade para voltar em triplo e me deixar ser assim molestada, usufruída, desfrutada; afetivamente. Essa auréola visível e que apóstolos de Lúcifer, Satã quem sabe, insistem em tentar retirar e me tatuar algum símbolo de maldade, pessimismo. Partícula de sanguínea, que exala no ar o cheiro da caça, da dor, e da humanidade, para que vampiros sugantes de alma, carinho e leveza me encontrem, feito GPS. Num beco sem saída, sinuca de bico, encruzilhada sem escape e passagem-secreta. E sofro, voltando a me fechar num luto interno, com demoras para recuperação de auto-estima, mil livros e sapatos, em forma de recompensa à esses traumas.

Pressentimentos inaproveitados, onde eu sabia que cairia pela trigésima vez nessa vala funda, e ainda assim quis arriscar, ver aonde ia parar, tentar sair por cima e como mulher equilibrada; todos os ensinamentos em mente, não dando vantagem ao erro, e nem sequer possibilidade. E na verdade, ou se cai bem fundo, tão fundo que não tem volta; e sim, fundição, conexão feita e sucesso êxito. Ou ainda, é apenas mais uma das chances, a tal benevolência, que precisa ser gasta e não encontra indivíduo, objeto, e tento fazer crescer: seja você, ou a nossa situação sem pé nem cabeça. Lugar preenchido, ainda na sua presença, a falta, a falta, a falta.