você está lendo A loucura, seu corpo pesado e um pouco de neve!

Eu sempre me orgulhei de não ser como as outras garotas. Pensando bem, eu sou exatamente como as outras garotas, apenas me orgulhava de não querer as mesmas coisas que elas. Cresci cercada de homens e sempre achei que isso fizera com que eu tivesse uma visão diferente acerca dos relacionamentos, o que não me fizera mais feliz por que passei cada minuto da minha vida tentando não ser como as outras garotas. E o que eu quero dizer com isso? Quero dizer que eu gostava e me apaixonava, mas não o suficiente para deixar qualquer pessoa tomar meus pensamentos 24 horas por dia. Ou me impedir de chegar em casa e despejar meu cansaço no sofá para só então, reorganizar meus pensamentos e ir despejá-los junto a água que escorria do meu corpo debaixo do chuveiro. Eu nunca disse “eu te amo”. Eu nunca dormi com alguém. Eu estava lá, mas de olhos abertos. Nunca gostei de ninguém a ponto de me deixar ser vista além da base e do rímel. Eu tinha que acordar fabulosa e para acordar fabulosa eu tinha que ficar acordada. Eu nunca fiz sexo com a mente vazia. Eu nunca abracei como alguém que poderia morrer naquele abraço. Por que a partir do momento em que o fizesse e precisasse desesperadamente daqueles braços, eu seria igual às outras. E isso eu não poderia suportar.

Mas qual não foi minha surpresa ao descobrir que eu sou um clichê? Um desses que poderia facilmente virar enredo de comédia romântica. Da garotinha que vê a mãe ali frágil, de corpo e alma aberta e se divide entre amar o pai e odiar o homem que faz sua mãe chorar. Aquela que durante a vida teve seu papel invertido e ao invés da filha foi a amiga cujo ombro e todo o corpo a mãe usou para chorar. Aquela que odiava tamanha fragilidade e por isso prometerá nunca entregar sua alma de bandeja a ninguém.

Aquela que agora deseja ser exatamente como as outras. Que deseja gritar “eu te amo”. Andar de mãos dadas. Abraçar como se fosse morrer e fazer sexo de mente vazia. Aquela que só espera um sinal, uma mensagem, um “pode vir”, para se jogar de braços abertos e olhos fechados. Só não sabe como. Aquela cujo pensamento ele ocupou e tornou o medo tão mesquinho e sem sentido. Aquela que largaria tudo para trás, só para viver o amor, assim como as outras. Por que agora tudo o que eu quero é viver a loucura, seu corpo pesado e um pouco de neve!