Naquela outra noite

15 de janeiro de 2011
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Nós tínhamos acabado de chegar. Você avistou de longe seus amigos e me puxou em direção a eles como se eu fosse mais uma parte do seu corpo. Eu sorri e os cumprimentei como sempre. Enquanto você conversava sobre misturas de bebidas e maneiras de furar a fila eu imaginava como fugir daquele lugar sem parecer uma louca.

– Não tem suco? Não tem água? Ok. Uma Ice.

Do lado um casal beijando do outro um grupo de amigas fofocando – aquelas que falam da sua roupa e do suor na sua franja. Suor, calor e funk. Por que diabos as pessoas dançam um monte de palavrão com batidas? Mexa-se Bruna. Mexa-se. Tente parecer menos estranha.

– Amor, vou no banheiro tá?

Uma pobre garota vomitando no chão e a outra tentando salvar o que restou do lápis de olho com as pontas dos dedos. Será só eu estava me ali?

– Que ótimo, sem papel.

Eu me imaginei naquele momento em vários outros lugares. Na litoral, observando a lua ao lado de uma fogueira escutando você tocar violão. No cinema não prestando atenção no filme e beijando sua boca. Em casa abrindo a geladeira pra fazer qualquer besteira pra gente comer na cama.

– Ei querida, morreu aí dentro?

Você nem percebeu que eu voltei porque estava virando mais um copo de alguma coisa que tinha a mesma cor do meu esmalte. Aquele era o meu limite. O medo de te deixar ali sozinho era menor do que o medo de te deixar ali comigo. Eu não aguentaria por mais muito tempo – sem brigas.

– Amor, vamos ali pra fora comigo?

Suas mãos estavam na minha cintura e dessa vez eu estava te levando para algum lugar.

– Eu preciso ir.
– Agora? Você sabe que horas são? – Disse ele aumentando o tom de voz.
– Hora de voltar pra casa.

Eu estava discando para o táxi quando te vi voltar para a multidão.

Qualquer um diria que nós nunca tivemos nada a ver. Mas eu sabia. Você era o meu garoto e eu te amava em silêncio mesmo com tanto barulho ali fora. Mesmo com tantos idiotas tentando de convencer o contrário. Mesmo você se importando com tudo isso.

Mas eu era uma garota de sorte, você se importava.

Uma lágrima se formava em meus olhos, quanto te vi correr logo atrás do Táxi.
Você voltou pra casa junto comigo.
De mãos dadas e sorrindo.