você está lendo Vértices de um amor, Cap VII

( Capítulo I / Capítulo II / Capítulo III / Capítulo IV/ Capítulo V/ Capítulo VI)

Apertei o passo e segui em frente deixando minha melhor amiga para trás como se ela passasse de uma desconhecida qualquer. Nunca entendi como as pessoas conseguem simplesmente “seguir em frente”, era realmente difícil pra mim! O tempo passava  e cada vez que fechava meus olhos antes de dormir me sentia só, e cada vez mais, presa as lembranças do passado. Talvez as pessoa sempre estiveram certas, sou feita de lembranças idiotas e secretas.

Minha escola ficava do outro lado de uma avenida movimentada, eu costumava ficar esperando os carros enquanto imaginava como era a vida de cada uma daquelas pessoas que passavam por mim pela primeira e provavelmente última vez! Era loucura, mas eu sempre fazia.

Entre o passar de carros e caminhões, percebi que do outro lado da rua estava Phelipe, olhando fixamente em minha direção. Eu não tinha certeza se era realmente pra mim, ou para alguém – você sabe quem – que estava logo atrás.  Que ótimo, eu estava disputando o olhar do meu ex com a minha ex melhor amiga – Isso era idiota demais! Atravessei a rua desviando o olhar e engolindo uma vontade estranha de vomitar borboletas mortas.

Minha escola fazia parte de uma construção antiga (o que naquela cidade não era antigo?), apesar de espaçosa eu não me sentia muito confortável por lá. Na verdade eu ainda sentia  um pouco de saudade da minha antiga escola, onde eu e Matt estudávamos. Nossos pais programaram essa mudança de escola desde que ainda estávamos na barriga da nossas mães. Uma escola federal era tudo que o meu futuro precisava para ser seguro – Eu queria que ele tivesse pensando no meu presente.

Enquanto eu caminhava pelo corredor procurando algum rosto conhecido, esbarrei em uma aluna que estava perto do bebedouro.

– Desculpe! –  Disse enquanto pegava os meus livros no chão.
– Não se preocupe, a culpa foi toda minha. Eu estava distraída.
– Você é nova por aqui? – Eu sabia o nome de quase todos os alunos da escola, dos que não sabia conhecia pelo menos de vista! Ela era diferente das pessoas que eu costumava ver naquela cidade.
–  Sim, cheguei nesse final de semana de São Paulo.  Meus pais resolveram se mudar para o interior… E aqui estou eu!
– Meus pêsames! – disse sorrindo enquanto levantava –  Você  é de que turma?
– 2° B  – Ela precisou olhar a turma numa espécie de anotação que estava na palma de suas mãos.
– Seremos colegas de classes então. – Era realmente bom ter uma colega – quem sabe amiga – de fora por perto.

Ela não era bonita, mas tinha um charme admirável. Sua pele era tão branca quanto a minha, e seus cabelos eram longos e ruivos – naturais.  Um óculos Wayfarer com grau-  aparentemente forte – escondia um lindo olho verde quase azul.

Procurei Matt enquanto entrávamos na sala de aula, mas ele ainda não havia chegado.

– Que falta de educação a minha, nem perguntei o seu nome. – Disse enquanto tentava chamá-la para sentar no fundo da sala.
–  Marília, mas prefiro que você me chame de Lia!
– Ótimo, Lia! Vamos nos sentar lá trás? – Ela sorriu e me seguiu até o fundo da sala.

Conversávamos sobre São Paulo quando percebi a presença do casal do ano na sala. Engoli a saliva, respirei fundo e  continuei conversando como se não tivesse acontecido nada dentro de mim.  A aula naquele dia passou sem que eu pudesse perceber, a maioria dos professores ficou gastou  mais de 30 min falando sobre a novata. Lia pride!

Enquanto conversávamos entre uma aula e outra descobrimos que ela havia se mudado para um bairro próximo  do meu, e que talvez, nossos pais trabalhassem juntos. Coincidência obrigada (ou não) por você cuidar disso.

Voltávamos juntas pelo mesmo caminho de sempre quando começamos a falar de amor – Garotas sempre falam de amor uma com as outras. Ela era diferente das outras garotas da sala, não concordava com tudo que eu dizia.

– Você já amou alguém? – Talvez eu estivesse atrás de mais coincidências.
– Já. Foi lindo, mas passageiro. O cara se mudou sem dar notícias. – Depois que disse isso ela suspirou deixando bem claro que aquela ferida era recente e ainda doía. – E você?
–  Nossa, sinto muito.  Bem… Eu já me amei várias vezes, mas não tenho certeza do que estou sentindo agora. É uma longa história que envolve pessoas que eu considerava muito e que de uma hora para outra se transformaram em monstros. Sabe o que é pior? Eu sonho com monstros toda noite.
– Se quiser desabafar. – Tenho certeza que ela se arrependeu segundos depois por ter dito isso.
– Acho que eu tenho problemas com essa coisa de esquecer pessoas. Eu simplesmente não consigo.  No fundo sinto que ainda amo todos os caras que amei. Meu coração não tem uma válvula de escape onde as pessoas com o tempo – o tempo nunca adiantou nada pra mim – simplesmente saem. Elas ficam por lá. E cada vez que entra uma nova pessoa… Fica mais apertado.  Tem hora que parece que alguma coisa dentro de mim vai explodir.  – Não sei de onde surgiu a ordem daquelas palavras sem sentido, mas aquela desconhecida parecia a pessoa certa para escutá-las.

Continua.