Primeiros erros

05 de setembro de 2010
você está lendo Primeiros erros

Eu poderia inventar qualquer motivo para minha súbita volta para casa – ainda posso chamar aquele lugar de casa? – mas preferi não dizer nada, simplesmente chegar no pé da escada e gritar – desafinadamente – o nome da minha mãe, que obviamente me receberia de braços abertos.

A música no fone estava absolutamente alta, isso não permitia que meus pensamentos fossem muito além do que a vegetação da estrada que eu conseguia observar pela janela do ônibus: Vaca, morro, lagoa, vaca, morro, passado.   Eu estava prestes a enfrentar tudo o que eu abandonei a pouco mais de um ano atrás, isso fazia com que aquela antiga e familiar dor no estômago voltasse.  Fechei meus olhos com força e desejei com todas as minhas forças que aquela tortura também conhecida como viagem passasse logo. Não adiantou, mais quatro horas sentada e com um nó na garganta.

Voltar para casa significava abaixar a cabeça e admitir: Eu fiz merda. Embora eu saiba que eu não tenha voltado por esse motivo, para todos os os outros trinta mil – idiotas – habitantes era.

Chegamos.

Rodoviária, pessoas cometendo o mesmo erro.

Indo embora sem dizer adeus, sem colocar ponto final, deixando tudo em vírgula. Eu queria poder avisar,  que quando se está em outro texto, reescrever uma antiga história é – praticamente – impossível.  Era pra isso que eu voltei, fazer o impossível. Eu sabia o caminho de casa, mas não estava nem um pouco afim de pisar naquelas ruas repetidas . Chega de flashBacks por hoje!

– Táxi, essa rua, esse bairro, esse destino! Rápido, por favor!

Minha família sempre foi a mais perfeita do mundo, sempre reclamei de coração feliz. Meu pai era um cara misterioso, mas engraçado. Sempre tive um pouco de medo dele, mas nada que um bom abraço ou noite de cólica  não me fizesse esquecer. Meu irmão seguia o mesmo estilo dele, quase um clone. Já mamãe era uma irmã, e eu a mais velha.  Embora eu não tenha muita da minha infância na memória, sei que foi algo incrível.  Tudo realmente mudou na minha adolescência, não sei exatamente quando, mas com certeza em algum momento entre um amor e outro. Ou dois ao mesmo tempo!

Abraços apertados, perguntas e mudanças súbitas de assunto.

Meu quarto estava exatamente como eu o deixei. Colagens na parede, coisas sem sentido em todas as gavetas e estrelas – muitas estrelas – no teto. A sensação de entrar naquele lugar, foi a melhor dos últimos meses. Era o meu mundo, onde as melhores – e piores – coisas da minha vida aconteceram.

Dormir o resto da tarde para só acordar quando as verdadeiras estrelas estiverem brilhando.

Já? Porque minha mãe nunca me acorda? Banho. Trinta e nove minutos para escolher a roupa, outros vinte para fazer uma maquiagem decente e um para comer e descer as escadas.

Enquanto caminhava naquela rua, e olhava as poucas vitrines da única rua principal da cidade, voltei a pensar no real motivo para eu estar alí.  Eu precisava dizer e escutar algumas coisas, e aquilo precisava ser o mais rápido possível.

– Ele está?
– Pode descer aqui um minuto?
– Depois te explico, vêm comigo.

– Eu amei você com todas as minhas forças, e isso foi tão forte, que me anestesiou.  Foi por parar de sentir que eu quis sentir novamente, por outra pessoa. Isso faz de mim a pessoas mais covarde do mundo, eu sei, mas quero que saiba que pensei em você durante todas as vezes que senti outro perfume, em outra pele.  Não quero que você me perdoe, até porque isso já faz tempo demais, pra você provavelmente é indiferente. Quero apenas ser feliz por um tempo, e colocar um fim de uma meneira que eu não me sinta mais presa a você. Quero que você me faça sofrer, para que eu te odeie com todas as forças; Eu me conheço, vai funcionar. Aceita?

(continua)