10 de julho de 2009
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“Ela é a vitima, eu sou o réu.
Ela possui todas as virtudes, eu todos os vícios.
Ela é santa, eu pecadora.
Ela gosta de sol, eu amo a chuva.
Ela chora calada, eu faço escândalo.
Ela acredita no amor, eu creio no ódio.
Ela é banal, eu sou visceral.
Ela vai à igreja, eu moro em cemitérios.
Ela vai casar virgem, eu destruo lares.
Ela é moça de família, eu sou das esquinas.
Ela tem medo do escuro, eu vivo nas trevas.
Ela gosta de sorvete, eu preciso de álcool.
Ela reza antes de dormir, eu não durmo.
Ela agradece, eu cuspo no prato que como.
Ela acredita, eu desconfio.
Ela é feliz, eu finjo.
Ela só diz a verdade, eu pronuncio apenas mentiras.
Ela é humilde, eu arrogante.
Ela o ama, eu não vivo sem ele.
Ela se reprime, eu passo dos limites.

Talvez tenha sido exatamente isso que pensei quando finalmente o vi saindo da igreja de mãos dadas com ela, naquele dia de chuva,se você soubesse me senti tão sozinha… como ela se chamava mesmo? Annabella, isso, maldita Annabella, causa única do meu tormento, causa única do afastamento dele, ela e suas virtudes o arrancaram de mim, ela e sua santidade banal de cristã de subúrbio. Observei os dois atravessarem a rua, traguei lentamente o cigarro e uma lágrima tardia escorreu pelo meu rosto, limpei o vestígio úmido da minha paixão inútil e segui o perfume amadeirado que ele usava, o conhecia tão bem, muito mais do que aquela beata de merda, mais do que ele próprio supunha, mas isso já não importava.E em pensar que há um tempo Annabella, maldita Annabella, era simplesmente uma possibilidade, afinal todos os rumos são aceitáveis, todos os personagens podem assumir o topo de protagonista, talvez seja isso que me incomode, o que dói não é o amor que perdi, o que me incomoda é saber que ela, aquela vaca de sacristia é a culpada disso. O engraçado nisso, é que ele é mais feliz comigo, eu o divirto, eu o excito, eu conduzo aquela mediocridade toda que ele chama de vida, apenas eu, e ele me troca por uma idiota, que no máximo joga gamão aos domingos para se divertir. Annabella, agora eu me permito pensar mais nesse nome, como um veneno letal que eu injeto aos poucos, sentindo minha agonia, Annabella, maldita seja entre as mulheres.”

crd Horrizonte Errado